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quinta-feira, 6 de março de 2014

Resenha: O Restaurante no Fim do Universo.



Ontem acabei de ler o segundo livro da série O Guia do Mochileiro das galáxias, ele é um livro cheio de críticas sobre a nossa sociedade e questionamentos sobre a criação da Terra, muitas idas e vindas no tempo e muitas buscas por respostas fundamentais a vida, o universo e tudo o mais.

O Restaurante no Fim do Universo é realmente um restaurante onde os cidadãos do universo podem ir assistir a destruição da Terra enquanto comem e bebem alegremente e depois voltam para casa, contam ainda com um simpático animador que faz isso todas as noites, se é que a noite existe, pois o lugar é protegido por um campo de força.

“(...) acho realmente fantástico, vir aqui e assistir ao fim de tudo, e então retornar para casa, para suas próprias eras... e construir famílias, lutar por novas e melhores sociedades, combater em guerras terríveis em nome do que vocês acham certo... isso realmente nos trás esperança no futuro de todos os viventes. A não ser, é claro pelo fato de sabermos que não haverá futuro algum.”

 Onde um imenso animal leiteiro aproxima-se da mesa e se oferece como prato do dia e ainda ressalta que é melhor um animal que quisesse ser comido – como é o caso dele – do que um sem querer
.
Ao saírem do restaurante Arthur, Ford, Zaphod, Trillian e Marvim roubam uma nave, só que depois descobrem que ela está programada para se chocar com o sol, esse número faz parte de um concerto musical, então eles tentam desesperadamente sair de lá.

Quando conseguem, Marvim fica, e Zaphod e Trillian voltam para sua nave Coração de Ouro e Arthur e Ford caem em outra nave que descobrem estar a 2 mil anos no passado e que está destinada a cai em algum planeta inabitado para começar uma nova civilização.

Ao chegar lá, Ford descreve o planeta como o lugar mais bonito que ele já tinha ido e olha que ele já tinha estado em muitos. “Uma quietude maravilhosa estendia-se sobre o mundo, uma calma mágica que combinava com as doces fragrâncias dos bosques, os insetos criqueteando e a luz brilhante das estrelas para aliviar seus espíritos agitados”.

Eles se separaram da tripulação e foram fazer um reconhecimento do lugar, passaram semanas viajando, até que encontraram um território de montanhas cobertas de neve, escalaram-nas até que Ford vê algo escrito no gelo, e ao mostrar a Arthur que levou um tempo para conseguir ver o que era ele finamente viu.

Este planeta habitado por nativos que estavam morrendo com a chegada desses novos habitantes era o planeta Terra há 2 mil anos atrás e Arthur ficou muito desanimado ao perceber que seus antepassados eram uns boçais que só ligavam para eles mesmos e que destruíam o que a natureza tinha a oferecer.


É muita coisa pra contar sobre esse livro, é preciso ter muita imaginação pra ir até o Universo e atenção pra não perder o fio da história, porque é muita viajem esse livro, com reviravoltas chocantes, mas quando se começa ler ele, o difícil é soltar.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Relendo: A menina que roubava livros.



Há 5 anos eu comprei o livro: A menina que roubava livros. Não sei por que motivo, razão ou circunstância... mas ao folhear a revista Avon, me deparei com ele,  e sabe quando não é a gente que escolhe o livro, sim ele que escolhe a gente? Acho que foi isso que aconteceu.

Eu comecei a lê-lo de novo... pela terceira vez e essa foi a vez mais incrível. É muito legal fazer isso, por que a cada re-leitura a gente encontra novos detalhes na história que passaram desapercebidos da primeira vez, li em algum lugar que isso se chama leitura semiótica, o ato de perceber maiores detalhes quando se faz re-leitura de histórias, situações, etc.


Liesel é uma menina que tem um grande amor pelos livros, isso talvez se deva ao fato de ela ter achado um, logo após o enterro de seu irmão e por isso livros a façam lembram dele, assim como de sua verdadeira mãe, mas no decorrer da narrativa vemos que os livros se tornam cada vez mais uma necessidade na vida dela.


A estória se passa na Alemanha nazista, começa um ano antes de explodir a primeira guerra e em meio a seus estudos da meia noite com o pai adotivo Hans, as palavras vão ganhando vida... por que sim, ela meio que roubou o primeiro livro ( Manual do Coveiro) sem nem ao menos saber ler.


E ela briga na escola, brinca com os amigos na rua, leva sovas da Irmã Maria, limpa o cuspe que Holtzapfel lança na porta da frente de sua casa, enrola cigarros com Hans, o ouve tocar acordeão, ela e sua familia escondem um judeu no porão, leva e trás roupas lavadas e passadas para as casas nas quais Rosa Hubermann, sua mãe adotiva, trabalha... e ainda rouba livros, coisa que se torna um hábito no decorrer do tempo.


Mas não é só de roubo o seu suprimento literário, ela também ganha 2 no Natal de seu pai, mas também rouba um de uma fogueira que os nazistas fizeram... e em meio a luta pela sobrevivência, Liesel Meminger vive grandes aventuras com o garoto que se pintou de carvão por que queria ser Jesse Owens, chamado Rudy Steiner e vários outros personagens que surgem durante o livro.


Minha vontade de ler de novo surgiu não só por que é uma estória muito boa, mas também por causa do lançamento do filme que vai acontecer no final desse mês.


Pra mim Liesel é uma representante de um tipo de leitor, aquele leitor que faz de tudo para conseguir uma boa estória para ler, uma guerreira na vida, mas que tem sua base emocional nos livros, aquele leitor que não tem uma estante abarrotada, mas que sempre que pode compra um livro novo, ou ganha... ou rouba.

Ana Karoline Martins.



sábado, 21 de dezembro de 2013

Imagine só...



Imagine só... se não houvesse o ser humano na Terra? Não existiria lixo, lixo esse que é conseqüência do que é consumido por nós.

O homem é um ser que vive para o consumo, passa em média mais de quatro horas em frente a televisão, absorvendo todo um discurso que o condiciona a um ciclo vicioso de trabalho para consumir marcas e contrair dívidas, para pagar dividas. Sendo que no final, percebe (se é que percebe) que acabou consumindo apenas uma fantasia.

Já é possível sentir os efeitos desse modelo doentio de sociedade, a relação dos homens com seus semelhantes se tornando distante e vazia em plena era das comunicações eletrônicas em rede. Mais vazia ainda sua relação com a natureza, pois é nela que é jogada as conseqüências desse consumo desenfreado. O que não nos serve mais, vai para o lixo, muitas vezes de forma inadequada e ainda fica poluindo o solo por milhões de anos.

Mas em meio a todo esse abuso, o planeta não é passivo, ao ser emitido clorofluocarboneto, metano, dióxido de carbono e outros gases poluentes no ar, a camada de ozônio é atingida, causando sua destruição por conta do acúmulo e dando entrada para os raios ultravioleta nocivos à Terra, aumentando a chance de câncer de pele, sem falar no desequilíbrio do clima com o aumento do efeito estufa, que causa o derretimento das geleiras polares e conseqüentemente a inundação dos territórios.

Na medida em que não preservamos a biodiversidade, o planeta e o que ele tem a nos oferecer colocamos em risco a nossa própria existência na Terra. Por que o problema não é não tirar, e sim a exploração desmedida que o homem faz desses recursos naturais, sem consciência nenhuma do que venha a ser sustentabilidade.

Com o aumento da utilização dos combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural, a concentração de dióxido de carbono duplicou em cem anos, ele começou a se proliferar demais, elevando a temperatura global, somando com a destruição das florestas, que em condições naturais elas regulam a temperatura, os ventos e os níveis de chuva em diversas regiões. Menos florestas, mais alta a temperatura no planeta.

E como se não bastasse tirar, o homem também polui o solo, a água, a atmosfera, trafica fauna e flora, introduz espécies em ambientes que não são naturais deles, caça e pesca ilegalmente... e as conseqüências são uma perda da qualidade de vida, muitas vezes irreparável.

A natureza é para estar disponível para satisfazer nossas necessidades básicas e não refém/vítima do crescimento econômico. Em primeiro lugar devemos colocar o bem estar de todos, a vida das pessoas, dos animais e do próprio planeta. Investir na melhoria das condições de vida e preservar as fontes de energia, ar, água e tudo aquilo indispensável para o equilíbrio ambiental, dando tempo para o planeta respirar/renovar seus recursos naturais, tudo isso é indispensável se quisermos continuar vivendo neste planeta.


Ana Karoline Martins.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Troca de livros


Uma vez eu estava no Facebook e encontrei um evento de troca de livros super bacana que acontece em São Paulo e pensei, por que não fazer um também em Fortaleza?

Trocar coisas vem de uma ideologia de negação ao comércio, lucro... enfim, capitalismo. Decidimos então começar pelos livros, mas quem sabe nas próximas edições a gente começar a trocar também roupas, calçados e talvez até discos, como um cara nos sugeriu.

Diferente do que acontece nas transações comerciais, onde eu dou o dinheiro ao vendedor, recebo meu produto e saio muitas vezes friamente, sem dar um bom dia ou mesmo um sorriso de agradecimento e ele a mesma coisa, trocar objetos nos aproxima, nos socializa, conversamos com o futuro dono do nosso produto sobre as qualidades reais que se tem em adquirir um livro por exemplo, contando um pouco de sua história, sem se preocupar em convencê-lo a levar e sim em mostrar o quanto gostou daquela história e que a pessoa talvez também vá gostar tanto quanto você.

Apesar de a gente as vezes pensar que não dá pra viver fora do capitalismo, conseguimos burlá-lo sim, as vezes, afinal o que não necessitamos mais, por que deixar em casa entulhando nossos guarda-roupas, estantes e armários? Tendo várias pessoas que com certeza usariam o que pra você não é mais útil de forma criativa e inovadora.


Nosso primeiro encontro não deu nem 50 pessoas, mas acredito que com uma divulgação maior a gente consiga alcançar um público que tenha essa mesma ideologia ou mesmo vontade de renovar suas leituras de um jeito mais barato e ainda fazer um bem a alguém.

Ana Karoline Martins.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

RESENHA DO LIVRO ‘ON THE ROAD’, DE JACK KEROUAC.




Antes de conhecer a história de Jack Kerouac, eu conheci Chris Mclanders. E foi ele que me ‘levou’ até Jack, por conta dessa história de pegar a estrada e sair por aí. Antes de comprar ON THE ROAD – o manuscrito original; eu pesquisei muito e li sinopses de outras obras dele e estava encantada.

É difícil não comparar Jack com Supertramp – pelo menos até não conhecer bem os dois – e confesso que a NATUREZA SELVAGEM de Chris, foi muito mais intensa do que a estrada de Kerouac.

Kerouac amava a América, as pessoas, estar vivo e viver cada acontecimento, o que para mim ele era apenas um jovem entediado, que decidiu fazer um pouco de desordem e que encontrou outros malucos, que o apoiaram ou que faziam coisas piores que ele, o que conseqüentemente causava certa identificação.

Eu achei estúpido quando Bob Dylan disse que este livro mudou a vida dele, particularmente eu não vi/li nada de mais.

Pode até ser pelo tipo de escrita, ON THE ROAD é escrito em tom confessional, tipo diário, já NA NATUREZA SELVAGEM, foi escrito após a morte de  Chris, por John Krakauer, o que abre espaço para uma “romantização” da história.

O que Jack me passou é que mesmo ele vivendo com pessoas que se diziam “intelectuais”, eles não passavam de verdadeiros vagabundos vivendo numa sociedade niilista. O que pelo menos no ponto “vagabundos”, ele mesmo algumas vezes se autodenomina assim.
Eu achei uma narrativa cansativa e me arrependi de tê-lo comprado, eu poderia ter gasto esse dinheiro com um livro bem mais prazeroso... apesar de esse livro ser considerado um clássico americano.

Por isso não nego a importância da obra, nela Jack exalta a América, narra suas aventuras, e anota tudo, quem sabe isso não me seduziria a uns 3 anos atrás, mas hoje em dia não mudou muita coisa na minha vida e não me acrescentou nada que eu já não soubesse, além de ter caráter machista, por que sim, eu sou uma grande fã de romance. U_u

Além do mais ao final de sua vida Kerouac, terminou um velho bêbado que ia a missa aos domingos, como eu li em uma revista:

“Desapontado com os beatniks, desgostoso com os excessos, Kerouak encontra refugio no catolicismo e no conservadorismo.”

Mas veja só, como a vida dá voltas, na velhice o vazio existencial o toma de tal forma que até conservador ele vida. ¬¬’

Depois de passar a vida fugindo de leis e regras, no limite humano, com álcool, drogas, mulheres, etc... ele, no fim se rende a america way of life: propriedade privada, religião e capitalismo.

Por isso prefiro Chris McLanders, aprecio muito mais sua busca trágica do que a busca frustrada de Kerouac.

Na medida em que a leitura se desenrola, podemos perceber um certo amadurecimento dos personagens.

É como se toda a excitação vazia fosse apenas novidade, depois se ‘jogar’ na estrada se torna uma necessidade, como em uma parte que Jack diz: “Queimei todas as pontes”, nesse momento ele desiste de todo o seu passado, não se importando mais com nada a não ser com a extensa linha branca no meio da estrada e os loucos acontecimentos durante o percurso.

A amizade de Neal e Jack se fortalece, exatamente por que agora eles passam mais tempo juntos e ela se torna foco. A sanidade de Neal é mais do que questionável, só Jack o compreende.

Ao final de sua maior aventura que foi pelo México, algo aconteceu... Neal voltou sei lá para qual sua esposa – sendo que ele tinha já não sei quantos filhos, com várias mulheres -  e Jack depois voltou sozinho para casa, de ônibus e termina o livro dizendo que depois disso nunca mais viu Neal Cassadi.

-------------------------------------------------------------------------------  Ana Karoline Martins.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Voltando para a Caverna



Ah! O silêncio, finalmente...
A calma, a leveza da vida e da mente.
Sem sons, falas ou ruídos,
Sem pressa, pessoas, TVs e nem gritos.


Do nada chega o povo,
Que me impede de ler.
Ligam a TV para tentar esquecer.
E quando eu saio me perguntam o porque.


Ora! Se você ligou a TV,
Vou para outro lugar tentar me esconder,
Porque na sala não dá mais pra ser.


Fica, vem, senta...
Liga a TV e fica atenta.
Largo ou não largo o livro de lado?
Sento, assisto como o meu amado.


Sentamos no chão
E voltamos a viver na
Caverna de Platão, um mito que
Uma vez lido, não dá mais para ser
Esquecido.

Ana Karoline.

sábado, 3 de março de 2012

A doença de hoje é o presente.




Nem tudo é só tristeza, nem tudo é só beleza e mesmo que as nuvens negras venham se alastrando por sobre nós, a luz do mundo ainda clareia boa parte da Terra.

Nos últimos anos o planeta tem sofrido mudanças muito drásticas, foi em muito pouco tempo que muita coisa aconteceu e vem acontecendo, pela espreita, nos dominando/contaminando silenciosa e inconscientemente.

O psicólogo Yves de La Taille disse no programa Café Filosófico, na TV Cultura, que estamos vivendo mais do que nunca o presente. O que por um lado é bom, sempre nos disseram e tentaram enfiar na nossa cabeça que o presente é o que importa, isso não seria uma noticia ruim se o presente fosse realmente tão bom como sempre disseram.

Viver no presente exige de nós um nível extremo, do qual nós ainda não estamos preparados – digo nós, cidadãos comuns, ou pelo menos eu, me considero com um nível intelectual ainda muito baixo para entender e equilibrar certas coisas - viver no presente nos leva a loucura.

Para tomarmos conhecimento de mais coisas e mais rápido, as noticias se tornaram fragmentos, são rápidas, pequenas e logo esquecidas para que novas venham à tona.

Não posso mais me dedicar exclusivamente a nada, pois o que hoje é Cult, amanhã já é brega, todos os dias surge uma nova visão, tudo se tonou tão rápido, fácil, passageiro...presente.

A internet é a mãe da vida no presente, esse novo estilo de vida louco, do qual entramos sem nem perceber.

Tomarei como exemplo as redes sociais, mais especificamente o FACEBOOK, no mundo dele o ontem não importa mais, tamanha é a carga de publicações e atualizações diárias, o que vamos postar amanhã não interessa, o quente é  de hoje, é o que o pessoal está falando e fazendo naquela hora, isso vicia, as pessoas não conseguem mais viver sem saber o que está acontecendo AGORA, e passar um tempinho sem olhar as atualizações é como perder uma 
parte muito importante do dia, da vida.

Na Bíblia diz que só um tolo pensa em viver o dia de amanhã, porque já basta o mal que o dia de hoje já trás, a Pitty fala em uma música sua para não deixarmos nada para a semana que vem, pois semana que vem pode nem chegar, e também Renato Russo: mas é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei...

Eu também sei que cada um vive a sua vida da maneira que quer, saudosista, futurista...não importa, só que viver inconscientemente as coisas é perigoso e quando a gente acorda nos sentimos tão enganados, usados...

Todo mundo está tão preso a essa teia de aranha que é a internet, somos a “geração da informação”, para todo canto que se olha tem um jovem com o celular nas mãos, a vida de momentos passageiros, não dá mais para se viver intensamente nada, é perda de tempo e ninguém mais que perder tempo...

Acordamos finalmente, a vida não é eterna, temos que aproveitar o hoje, nossa juventude, nossa saúde. Mas não podemos viver só de presente, apesar de o tempo ser relativo, mas o passado não pode ser esquecido, nem o futuro pode deixar de ser pensado, presente demais envenena, aliás tudo demais faz mal.

Essa ânsia súbita de viver já matou e continua matando muita gente, outras vivem doentes, presas a tela presente do computador, inertes, só engolido fragmentos, se atualizando rápido, enchendo a cabeça de retalhos e logo esquecendo para depois encher de mais nada.

Ana Karoline.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Observatório



- Nada a fazer...só observar o homem da frente.

   Ele mora sozinho, foi o que eu pude perceber, e amigos que vem de vez em quando e eles desatam a beber.

   Tem dias em que ele vai até a janela e fica a observar a imensidão do céu, com  seu cigarro na mão à fumaçar, um tanto reflexivo, um tanto solitário, mas sorri, quando está entre amigos.

   Depois da meia – noite, só a cerveja é sua companheira.

- No andar um pouco mais embaixo ao dele, aconteceu um aniversário surpresa, vi os preparativos e as luzes se apagando, quando a mulher da frente chegou, começaram a cantar em uníssono  parabéns pra você...

   Ela ficou feliz, abraçou os que estavam presente e ficaram comendo as guloseimas que só aniversário tem.

- Lá em baixo, o homem de trás chegou do trabalho, tocando Linkin Park em seu rádio, pegou suas coisas e foi para seu apartamento.

- Voltando o olhar para o homem da frente, ele está a fumar na janela, o que se passa em sua mente? Quais seus dramas? Seus desejos, sonhos, vontades? Qual seu nome?

- A mulher da frente, feliz, uma ano mais velha, amigos legais que fazem festa surpresa, mas, o que lhe faz chorar? Seus pais ainda estão vivos? O namorado é fiel? Ela é realmente tão feliz quanto aparenta ser?

- O homem de trás, chegou aparentemente cansado do trabalho, será que tem uma esposa que o espera com amor ou está pregada em frente a uma televisão assistindo novela? Será que ele tem filhos? Gosta de sua vida? Ou não tem esposa? Vive sozinho?

- E eu aqui, na minha janela, só a observara vida alheia, por que as vezes é tão necessário saber o que os outros estão fazendo? Será que é para nos certificarmos de que há vidas mais difíceis do que a nossa, ou nada mais que simples curiosidade?

   Ou pela necessidade de vermos que não estamos sozinhos nessa, que na vida há diversas formas de sofrimento, de dor, de alegria, de vida...mesmo sem nos conhecermos sinto que eles – esses personagens – fazem parte da minha vida.

   Sim, eles são meus vizinhos de condomínio, mas nunca passamos um pelo outro, nunca nos desejamos bom dia, nunca trocamos olhares.

   Eu vivo, eles também, cada qual com seus afazeres, cada um com seu charme, seus interesses, sua profissão...não sei se por eles minha presença é notada, não sei se eles sabem da minha existência, mas continuo aqui a observá-los e a nutrir esse meu interesse pelo homem misterioso da frente.

                                                              ...

- A garota da frente tornou-se a minha inspiração, ela mora sozinha, e fica horas a fio naquela janela desde quando chega não sei de onde, fica a observar alguma coisa, o que será que ela pensa? Qual será seu nome?

   Acabei de arrumar um assunto novo para o meu livro, vai ser sobre o modo como vivemos em um mesmo lugar e mesmo assim tão separadamente.

- Enquanto eu fumo meu cigarro, no andar de baixo ao dela, eu vejo um casal que...


Ana Karoline.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O Balão





Eu estava no meu quarto de apartamento, era de tarde, o sol estava quase se pondo. Pus meu livro de lado e fiquei a contemplar o céu.

De repente vi que uma coisa entre os prédios se movia, era um pouco lento, mas movia-se. 

Aquilo me chamou  a atenção, pela sua cor e forma.

Saí do meu quarto, fui em busca daquele que subia, lá fora pude perceber que ele estava sendo controlado por alguém, era por um homem que mora no bloco de lado ao meu, ele estava na janela.

Fiquei a contemplar o balão de gás e cor alaranjado que subia como um chamado aos que em baixo o observavam.

De repente uma curiosidade me invade, eu precisava saber quem era aquela pessoa que estava controlando aquele balão.

E fui, andei alguns passos até a entrada do bloco de apartamentos da frente, fiz uma rápida contagem do número do andar de onde saiam os balões.

Até que ele solta outro, então, é dali que o outro saiu, pego o elevador.

Bato na porta, depois de alguns segundos ela é aberta, um homem me pergunta o que eu quero, quando de repente uma garotinha loira chega por entra suas pernas abraçando-as.

Eu sorrio meio sem graça, a garotinha pergunta se o pai dela não vai me mandar entrar. Ele também dá um sorriso e diz: - Mas minha filha nem sabemos  que ela quer. – E olhado para mim, ele pergunta - :  o que você deseja?

Eu falo do balão e explico que era uma história idiota, mas é que eu senti como se o balão me chamasse.

Ele abriu mais a porta e me chamou para entrar. Sentamos no sofá e a garotinha ficou a brincar com as fitas coloridas que tinha no chão, provavelmente materiais para a construção de outros balões.

Também é uma história idiota – ele diz – mas é que minha esposa gostava muito de balões, e quando ela morreu eu e Sara nos mudamos para cá – ele hesita e pouco, mas continua – um certo dia quando eu estava pondo ela pra dormir ela me perguntou como era que a mãe dela ia nos achar quando voltasse... e para fazê-la dormir eu enchi uma bexiga, escrevemos nossos nomes e ela soltou pela janela.

- Nossa, é uma história cheia de emoção! – disse eu, mais por não ter o que dizer, tamanha a minha emoção.

- E até hoje a gente solta esses balõezinhos que nós mesmos fabricamos – disse ele em meio a um sorriso – não é filha?

Ela apenas mexeu a cabeça afirmativamente sorrindo e disse de cabeça baixa: - Ela voltou papai! – olhou pra mim e sorriu.

Eu meio que desconsertada me levantei: - Bom, eu já estou indo.

- Não dê atenção ao que ela disse, é que ainda é muito recente tudo o que aconteceu, me desculpe – disse ele.

- Não tem problema, bom, me desculpe também por ter vindo até aqui, nossa...

- Se quiser voltar mais vezes, fique a vontade, para a gente tomar um café não sei...

- Tudo bem, mas já vou indo.

- É... como você se chama?

- Me chamo Amanda.

- Eu sou Julio – estendendo a mão – prazer.

Depois que saí de lá não mais parei de pensar nisso que aconteceu, o sorriso não saia mais do meu rosto, foi como se finalmente eu tivesse me encontrado, entrei em casa, voltei para o sofá onde eu estava e peguei o livro...mas que doideira essa que eu fiz...

- Viu pai, o nome dela é Amanda, finalmente a mamãe encontrou o caminho de casa.


Ana Karoline.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Mais pesado que o céu – Sobre a biografia de Kurt Cobain.



Finalmente terminei de ler a biografia de KURT COBAIN, uma história bem triste que me deixou um pouco triste, por trás da imagem sensacionalista de ser um drogado suicida, Kurt sofreu muito durante os seus 27 anos.

Ao saber da morte do filho a mãe de Kurt fez a seguinte declaração: “ Agora ele se foi e entrou para aquele clube estúpido. Eu disse a ele para que não entrasse para aquele clube estúpido.”

Ela estava se referindo a coincidência de Jimi  Hendrix, Janis Joplin, Jim Mirrison e Kurt haviam morrido aos 27 anos de idade. “ Eu nunca mais vou abraçá-lo novamente. Não sei o que fazer. Não sei para onde ir.” – Completa ela.

É incrível a falta que faz uma pessoa quando morre, e mais incrível ainda é ver que tudo isso foi o resultado de uma separação, quando criança os pais dele se separaram e foi aí que começou o seu pesadelo.

Apesar de que desde criança Kurt tinha um certo ar “especial”, tinha um amigo imaginário, era mimado por todos...ele queria mais do que tudo ser um astro do rock e quando conseguiu, não agüentou... no final das contas percebeu que não era aquilo que o preenchia, já no fim, poucos minutos antes de cometer suicídio ele escreveu uma carta:

“ Faz muitos anos agora que não sinto entusiasmo ao ouvir ou fazer música, bem como ao ler ou escrever. Minha culpa por isso é indescritível em palavras. Por exemplo, quando estou atrás do palco, as luzes apagam e o ruído ensandecido da multidão começa, nada me afeta do jeito que  afetava Freddie Mercury, que costumava amar, se deliciar com o amor e a adoração da multidão. O que é uma coisa que eu totalmente admiro e invejo. O fato é que eu não consigo enganar vocês, nenhum de vocês. Simplesmente não é justo para nenhum de vocês, nem para mim. O pior crime que eu posso imaginar seria enganar as pessoas, sendo falso e fingindo que estou me divertido 100%. Tentei tudo que esta em meus poderes para gostar disso (e eu gosto, Deus, acreditem-me, eu gosto, mas não o suficiente).

Me agrada o fato de que eu e nós atingimos e divertimos uma porção de gente. Devo ser um daqueles narcisistas que só dão valor as coisas depois que elas se vão. Eu sou sensível demais. Preciso ficar um pouco dormente para ter de volta o entusiasmo que eu tinha quando criança. Em nossas últimas 3 turnês, tive um reconhecimento por parte de todas as pessoas que conheci pessoalmente e dos fãs de nossa música, mas ainda não consigo superar a frustração, a culpa e a empatia que eu tenho por todos. Existe o bom em todos nós e eu acho que simplesmente eu amo as pessoas demais, tanto que chego a me sentir mal. O triste, o sensível, insatisfeito, pisciano, pequeno homem de Jesus. Porque você simplesmente não aproveita? Eu não sei! Tenho uma esposa que é uma deusa, que transpira ambição e empatia, e uma filha que me lembra demais de como eu costumava ser, cheia de amor e alegria, beijando todo mundo que encontra, porque todo mundo é bom e não vai fazer mal e ela. Isto me aterroriza a ponto de eu mal conseguir funcionar.
Não posso suportar a idéia de Frances se tornando o triste, o autodestrutivo e mórbido roqueiro que eu virei. Eu tive muito, muito mesmo, e sou grato por isso, mas desde os 7 anos de idade, passei a ter ódio de todos os seres humanos em geral. Apenas por que eu amo e sinto demais por todas as pessoas, eu acho. Obrigado a todos do fundo do meu nauseado e ardente estomago por suas cartas e sua preocupação nos últimos anos. Eu sou mesmo um bebê errático e mal-humorado!  Não tenho mais a paixão, então lembrem-se, é melhor queimar do que se apagar aos poucos”
                                                      Paz, amor, empatia, Kurt Cobain.


Você pode observar a tamanha amargura que Kurt sentia, realmente ele chegou ao seu limite, ele teve vária overdoses, e mesmo assim sobreviveu, vivia no limite humano, foi a vários psicólogos, se internou diversas vezes, Kurt era um artista, fazia esculturas, pintava, produzia as próprias capas dos seus discos, capas muitas vezes absurdas que refletiam nada mais do que o que se passava dentro dele.

Ele só queria por fim em tudo o que ele já não suportava mais, não queria apenas buscar um refúgio como ele fazia com a heroína, ele queria por um ponto final em tudo aquilo que ele tentou esquecer sem conseguir.

“ Seus dois tios e bisavô haviam seguido essa mesma pavorosa trilha e eles haviam vencido, ele sabia que também conseguiria. Ele tinha os “genes de suicídio”, como costumava dizer brincando com seus amigos em Grays Harbor. Não queria nunca mais ver o interior de um hospital novamente, não queria um médico de jaleco branco apalpando-o, não queria ter um endoscópio em seu estomago dolorido. Ele estava acabado para aquilo tudo...

...guardou tudo isso como a única cura para uma dor que não passaria. Ele não se importava com a libertação do desejo, ele queria a libertação para a dor.”

Depois de completado o ritual que ele passou anos apenas encenando em sua cabeça, ele ... “agarrou a pesada espingarda, encostou o cano contra o céu de sua boca. Faria barulho: ele tinha certeza disso. E então ele se foi.”

E para finalizar, no funeral Kurt, Courtney fez uma gravação que foi reproduzida para os fãs, ela leu a carta e misturou com comentários dela:

“Quando leu a parte em que Kurt mencionava Freddie Mercury, ela gritou: Para Kurt, porra! E daí? Então não seja um astro do rock, seu imbecil. Onde ele escrevia sobre ter “amor demais”, ela perguntou:  Então, porque você não ficou?       E quando citou a passagem que dizia “ o sensível, insatisfeito, pisciano, pequeno homem de Jesus”, ela lastimou: Cale a boca, safado! Por que você não aproveitou? Embora ela estivesse lendo o bilhete  para a multidão – e para a mídia - , ela falava como se Kurt fosse seu único ouvinte...

...eu não sei o que poderia ter feito. Eu gostaria de poder ter estado aqui. Eu gostaria que eu não tivesse ouvido as outras pessoas. Mas eu ouvi.”

Pois é, gente... a vida inteira de Kurt Cobain foi marcada por grandes dramas, e como eu falei no começo, ele não era apenas um cara drogado e suicida que cantava rock, lendo essa biografia você consegue entender mais ou menos tudo o que ele passou, todo o caminho em que ele percorreu para chegou ao destino final que ele mesmo decidiu qual seria. No final, lendo sobre a missa, a dor da Courtney, a saudade, a incompreensão, tudo isso é de arrepiar... aquele homem ali sofreu demais...

Se você é um fã de Kurt Cobain, eu sei que chegou até aqui e por isso vou re-escrever somente mais algumas considerações, essa foi o padrasto de Kurt que fez: “ Ele tinha o desespero, não a coragem, para ser ele mesmo. Uma vez que você tem isso, você não pode dar errado, por que você não pode cometer nenhum erro quando as pessoas o amam por você ser você mesmo. Mas, para Kurt, não importava que as outras pessoas o amassem: ele simplesmente não se amava o bastante.”

Mesmo em meio de uma vida extremamente conturbada, Kurt animou muita gente, sorriu, brincou, se divertiu, encontrou o amor de sua vida: Courtney Love, que depois da morte do marido se tornou uma mulher meio doida,(ela já era um pouco), como eu pude perceber pela entrevista que ela deu a Mtv, quando ela se apresentou em 2011 no festival SWU, Frances, sua filha que hoje tem 19.


Assim como Kurt não queria que ela tivesse seu mesmo destino, parece que ela vive super bem,está noiva de um vocalista de banda que lembra muito o Kurt :X,  e claro herdou os lindos e inesquecíveis olhos azuis de seu pai – Kurt Cobain- .

Enfim, não dá para falar em poucas palavras desse livro e sobretudo de Kurt Cobain, então o jeito é ler o livro mesmo galera, então se você é fã não pode deixar de ler, é uma história emocionante, e apesar de eu ter encontrado um monte de blog com pessoas falando que o amor da Courtney é falso, que ela só se casou com ele para pegar carona na fama dele e trazer publicidade para a sua banda e de ter mandado matar Kurt e que criou a filha deles numa cultura capitalista e que ela não tem nada haver com Kurt, eu acredito no amor deles... apesar de que só podemos especular, pois eu e muitos fãs e principalmente os jornalistas de tablóides sensacionalistas não convivemos com eles, e só o que tem por aí são fofocas e mentiras, mas também tem gente comprometida com a verdade ou que buscou o máximo da verdade possível para escrever esta biografia que todo fã de verdade tem que conferir!!!

( HEAVIER THAN HEAVEN) = Mais pesado que o céu – Uma biografia de Kurt Cobain; de Charles R. Cross


                                                                                                  Ana Karoline.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Pertencer




Encontrando-se num estado de alto êxtase,
a menina tenta pertencer, entrar em meio a
notas musicais, se entregar e encontrar o que
falta sem necessitar morrer.

Quando dorme, tudo é  tão completo, tão cheio
de matéria, de sentimento, de necessidades preenchidas.
Companhias sentidas, palavras faladas sem medo,
só no mistério do subconsciente a realização é
extremizada e vivida, sentida com toda a alma.

Quando dorme, se entrega sem medo,
sem falha, é um sentimento de vida plena,
não existe um: não querer acordar.
É um terreno tão individual, tão acolhedor,
se conhece cada passo que dá nele.

Se vive, se sente vivo, lá é o lugar, o espaço,
o que existe, o real, é o que eu sonho quando durmo,
meu lugar de refugio, o analgésico para a dor da vida.

Ana Karoline.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

...



Presos aqui...
Condicionados a alguns anos de espera.
Escravos do tempo.
Somos seres encarcerados na mesma medida em que somos livres.
Personagens, bonecos de papel, marionetes...
Manipulados por um Deus, por uma ordem, por uma lei,
pelo tempo...
Um sol e uma lua que passam, ponteiros de um relógio que marcam.
Células trabalham, se regeneram, cansam, envelhecem...morrem.
E o tempo passa, o tempo não para.
E a gente tenta se agarrar ao presente de todas as maneiras mediocremente humanas.
Plásticas, horas no salão, estética, beleza, jovialidade... nada de eterno se compra.
E o tempo passa...
De resto só a lembrança, os passos, os caminhos percorridos e uma nostalgia que chega a doer.
Os ponteiros correm, as páginas do calendário são arrancadas descompassadamente.
Um grão preso no tempo, fazendo pequenas obras para se sentir completo.
Vivendo em um tempo que não liga, não perdoa, é indiferente, passa por cima de tudo e de todos, de histórias...
Frio, não se apega, não se lembra, não sente, o tempo não para, só passa e sempre nos leva para o fim, para a morte, para além da sorte.
                                                                                              Ana Karoline.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Joguete entrevista: Alessandro Reiffer.


                                                                              



O Blog  Joguete do Destino, divulga hoje a entrevista feita com o poeta Alessandro Reiffer, de Santiago, Rio Grande do Sul.

Santiago é conhecida como “A cidade dos poetas”.

Sim, ele é gaúcho, e diferente dos que aqui – Itapajé – habitam, ele é um cara bem bacana e profissional naquilo que faz.

Ø  Ficha:

Nome: Alessandro Reiffer

Idade: 33

Formação: Formado em Letras e em Administração pela URI – Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Santiago

Profissão: Escritor e Professor

1-Acredito que aqui no Ceará você não é conhecido, com essa entrevista talvez você terá um pouco de repercussão por aqui, então eu gostaria que você se apresentasse, quem é Alessandro Reiffer?

Costumo me definir de maneira bastante simples e direta, embora, talvez, um pouco estranha: um Arauto do Fim.

2-     Você já lançou seu segundo livro – (Poemas do Fim e do Princípio) – como você vê o futuro dos livros impressos, eles vão continuar sobrevivendo por muito tempo ou você acha que os livros digitais daqui a algum tempo vão dominar total? Lembrando que você também o lançou em formado digital não é mesmo?

Acredito que o livro impresso não irá desaparecer, não pelo menos num futuro próximo, porque ainda há muitos leitores que não o trocam pelo digital, eu mesmo prefiro os impressos. Mas não há dúvida que irá perder cada vez mais lugar para os digitais. Foi pensando nisso que lancei meu segundo livro também em formato digital, que é bem mais barato e mais ecologicamente correto que o impresso. Inclusive o digital tem tido mais saída.

3-     Santiago é tida como “A cidade dos poetas”. Sua influencia inicial partiu do lugar em que você vive, foi aos poucos adquirindo talento por ler obras de outros escritores que não seja daí ou é genético? Alguém da sua família também escreve?

 Não, não acredito em influência do lugar onde vivo, ou genética, porque sou o único escritor de minha família. E o fato de se ler bastante não faz de ninguém um poeta. Há muitas pessoas que leem muito, até mais do que eu, mas não conseguem escrever um só poema autêntico. Na verdade, já se nasce poeta ou não poeta. É da alma. Se não se nasceu poeta, nunca se será um.

4-     Mesmo que você não viva exclusivamente da literatura, sua família teve certa resistência ou você é bem apoiado? Tinha vergonha de mostrar o que escrevia para as pessoas de tua família, ou até mesmo amigos no inicio? Se sim, porque?

 Minha família sempre me apoiou, e continua me apoiando. Não, nunca tive vergonha de mostrar qualquer trabalho, mesmo que depois descobrisse que ele não era tão bom quanto eu pensava, rs. Um poeta não deve ter vergonha do que escreve, se tiver, não deve escrever. Deve escrever. Se os outros gostam ou não, aí já é outra questão.

5-     Já é uma espécie de tradição perguntar a escritores sobre a nova literatura que está monopolizando a juventude. Não é preciso nem citar nomes, porque todo mundo já sabe do que se trata. Qual sua opinião sobre Best Seller, e sobre essa força que eles ganharam na literatura e no cinema? E vindo de você, um autor que de certo modo tem aspectos vampirescos, o que acha dessa nova roupagem que os vampiros estão ganhando?

 Quanto aos vampiros, sua origem e significado foi totalmente distorcida e degenerada pela mídia. Tudo que vira moda se degenera. Os vampiros autênticos não existem mais nem na literatura nem no cinema contemporâneos. Quanto aos Best Sellers , deixarei uma frase de Einstein: “O que é muito popular, é muito ruim.” Ela fala por si próprio.

6-     O que você acha daqueles filmes antigos com mansões e aquela sala de biblioteca enorme, aquele piso de madeira, etc...Atualmente não é preciso nem ser mansão, qualquer pessoa pode montar em casa sua biblioteca particular, mas qual a sua opinião sobre a quantidade de árvores que poderia ser preservada se não fosse o enorme uso de papeis para a impressão de tantos livros que existem no mundo, não só os de literatura, mas todos no geral?

 Acredito que os livros contribuíram muito pouco para a devastação florestal, se comparado com outros produtos, embora também tenham contribuído. Há coisas que causaram muito mais devastação, como a agropecuária e o avanço das cidades. Mas claro que hoje em dia, com os livros digitais, há mais um motivo para se evitar a devastação, evitando os livros impressos sempre que possível.

7-    A sua poesia é cercada por uma áurea sombria. O frio da região sulista, marcada por resquícios europeus e de um hibridismo sul-americano tem alguma coisa a ver com o seu estilo?

 Sim, tem a ver, claro, também me influencia, embora não seja decisivo. Se eu vivesse em um local quente, creio que escreveria quase que da mesma forma. Mas não há dúvida que o clima e as características da minha região estão presentes em minha obra, consciente e inconscientemente.

8-     Muitas vezes suas palavras deixam transparecer uma espécie de submundo no qual você se encontra. Qual a sua relação com esse submundo adotado como o seu ambiente poético? Existe algum lugar especial – físico – onde você entra em contato com o seu submundo? Existe alguém que te transpareça esse lado sombrio?

Não, um local físico não existe. Meu “submundo” está dentro de mim mesmo. Posso entrar em contato com ele a qualquer momento e em qualquer lugar. Claro que há situações que o favorecem, principalmente quando estou em contato com a arte, seja música, literatura, pintura, cinema, enfim...

9-  A maioria dos escritores começou a desenvolver sua técnica bem cedo, como Clarisse Lispector que publicou seu primeiro conto aos 14 anos, Fernando Sabino que teve um conto premiado aos 13 e Rimbaud que “aos 17 anos era um caso sério da literatura”. Como foi sua iniciação na literatura? Existe algum “anjo da guarda” cujo você deve alguma gratidão?

 Escrevi meu primeiro poema com 8 anos de idade. Mas não dei continuidade. Somente aos 14 anos comecei a escrever de forma mais frequente, e, com 15 anos, publiquei meu primeiro poema. Mas não teve nenhuma pessoa que tenha sido decisiva para isso, apenas eu mesmo, a necessidade de minha alma. Se devo agradecer a alguém, é a meus pais, que sempre bancaram meus gastos com livros e para a publicação dos poemas e contos.

1o-  Relacionando a sua poesia sombria, gótica, você sempre se encontrou nesse campo, aos poucos foi descobrindo sua própria estética ou teve de certa forma a intervenção de alguém?

A minha poesia tem elementos do gótico, mas não se limita a isso, pelo contrário. Desde que comecei a escrever, os temas sombrios surgiram sempre naturalmente, não foi propriamente uma escolha de temas. Eles surgem por si mesmos, a minha tendência é essa, o que não significa que seja sempre assim. E, claro, não teve a intervenção de nenhuma pessoa.

11- Como você define seu estilo atualmente?

 Literatura de Ocaso

12- O que você mais gosta de ler (conto, crônica, romance, técnico)?

 Poesia, contos e romances, dentro da literatura. A crônica me chama menos a atenção, mas não que não a aprecie. Evito os Best Sellers. Fora da literatura, leio com menos frequência, mas leio de tudo, filosofia, ciência, história, jornais, revistas, livros de ocultismo... Apenas não leio livros técnicos.

13- Alguns escritores acham saudável ler algo totalmente diferente do que estão escrevendo, quando estão escrevendo. Você também é assim?

Sim, é interessante, mas não é algo que eu siga como um padrão. Posso ler, posso não ler.

14-  De tudo o que você já escreveu até hoje, o que ou qual te trás mais orgulho?

 Sinceramente, não sei. E nunca parei para pensar sobre isso, rs.

15- Ao longo de sua formação quais os 5 principais autores que mais impactaram sua vida, suas 5 maiores inspirações, eles ainda são os mesmos de hoje em dia? Se não, quais são os de agora?

Os 5 que mais me impactaram: Edgar Allan Poe, Johann Von Goethe, Dante Alighieri, Fernando Pessoa, Victor Hugo. São e serão sempre esses.

16-   Você prefere literatura nacional ou internacional? Por quê?

 Prefiro a internacional, como se pode perceber pelos autores que mais me impactaram. Simplesmente porque a literatura internacional é bem mais ampla e mais rica que a nacional, e há autores com que me identifico muito mais. Mas não desdenho a literatura nacional (quem sou eu para o fazê-lo?), pelo contrário, temos nomes que muito me influenciaram e continuam me influenciando.

17- Relacionado à música, quais seus gostos? E qual sua opinião sobre a música brasileira, ela tem qualidade?

Sou um grande amante da música erudita, é o que mais escuto, e ela muito me influencia em meus escritos. Mas também aprecio alguns estilos e bandas dentro do rock, do metal, do eletrônico. E também aprecio a música nativista gaúcha.

Claro que a música brasileira tem qualidade, mas desde que se saiba selecionar. Há muito, mas muito lixo rolando pela mídia, o funk é um deles. 

E não é questão de preconceito musical. Funk nacional é lixo, seja do jeito que for. Em outros estilos, há coisas boas e há lixo. Há música sertaneja de qualidade, e há o sertanejo lixo. Há o samba de qualidade, e há o samba lixo. E assim é com todos os estilos musicais em nosso país. Então, como disse, há que se saber selecionar.

O problema é que a mídia dá prioridade para o que é lixo, porque as pessoas gostam de ouvir lixo. Esse é um sintoma da degeneração da civilização, na minha opinião. Na música erudita brasileira há coisas sensacionais, mas quem é que divulga, quem é que escuta?

18- Bem, como sabemos você é professor, é jovem, escritor... e muitas vezes isso gera uma certa paixão nas mulheres, você já lida com assédio de alunas e fãs? Se sim, como você reage diante disso?

Sim, acontece, mas também não é algo fora do normal, rsrs. Quando acontece, busco manter apenas a amizade. A não ser que eu também não queira só a amizade. “No amor e na arte tudo é possível.”

19- Pude perceber que você tem certo gosto por animais exóticos, qual o motivo disso, originalidade, desejo de ser diferente?

 O motivo é que me identifico com eles, é algo natural, não é uma busca de ser diferente. Identifico-me com os animais noturnos ou sombrios. Felinos, corvos, urubus, corujas, entre outros, me fascinam.

20- Quais seus projetos atuais?

Tenho dois livros quase prontos, um de poesia e outro de contos. Talvez publique um deles no próximo ano.

21-Relacionado à Literatura, quais seus planos para o futuro?

Continuar escrevendo e me aprimorando dentro do meu estilo.

 22-O que você mais gosta de fazer nas horas que deveriam ser ociosas?

O que seria uma hora ociosa, não estar escrevendo ou dando aulas? Bem, se for isso, leio, escuto música, vejo filmes, bebo, me reúno com os amigos, ou saio com eles... Mas mesmo nesses momentos, eu estou criando, buscando inspiração, porque são desses momentos que sai a literatura, da vida. Por isso quase sempre tenho papel e caneta comigo.

24-Pessimismo ou Otimismo? Brasil ou Europa?

 Com relação a nossa atual civilização, pessimismo. Identifico-me muito pouco com a cultura brasileira, por isso, Europa.

25- Como é o professor Alessandro Reiffer? Como é o filho Alessandro Reiffer? Como é o amigo Alessandro Reiffer? Como é o vizinho Alessandro Reiffer? Como é o homem Alessandro Reiffer? Qual faceta da sua vida mais entra em cena na sua literatura?

O professor: tento ser exigente sem ser chato, sem ser intransigente. Busco sempre a participação e a interatividade do aluno. Isso é fundamental.

O filho: tenho uma ótima relação com minha mãe, ela é muito compreensiva, e é muito difícil brigarmos. Meu pai faleceu quando eu tinha 
18 anos, a relação era um pouco mais difícil, mas sempre o respeitei muito. Sempre respeitei e sempre fui respeitado por meus pais.

O amigo: tenho uma excelente relação com meus amigos, é muito raro me desentender com algum, sou uma pessoa bastante tranquila. E sempre fui respeitado por eles, assim como os respeito.  Aprecio bastante sua companhia e são bastante importantes para mim.

O vizinho: tenha pouca relação com meus vizinhos. Mas nunca tive problemas com eles. Talvez eu incomode um pouco quando coloco música muito alta, rs.

O homem: bem, talvez essa pergunta seja melhor respondida pelas mulheres com que me relacionei, rsrs. Olha, sou uma pessoa que dou muita atenção à pessoa com quem estou me relacionando, mas sem abrir mão de meus instantes de solidão e de minhas necessidades pessoais, daquilo que faz parte da vida de um poeta. Dedico-me o máximo que posso à mulher que está comigo, mas jamais permito que para isso seja necessário submeter minha personalidade. Tenho uma personalidade muito forte.

 A faceta da minha vida que mais entra em cena na sua literatura: a minha observação de quanto a humanidade está em um rumo sombrio. E a minha desilusão com o ser humano.

26-Você tem algumas dicas para as pessoas que estão começando a escrever agora?

 Leia, escreva e viva. Leia, escreva e viva. Leia, escreva e viva. E siga sua própria consciência.

27- Viver de literatura é possível no Brasil? Se sim, você acha que qual região seria mais favorável?

 Não, não é possível.     

28- Você gostaria de dizer algumas palavras finais?

Gostaria, Ana, de te agradecer imensamente por essa oportunidade e pelo teu auxílio na divulgação de minha obra. Obrigado!

Também te agradeço por nos ter permitido saber um pouco mais de sua vida e pela sua disponibilidade de nos responder a essas perguntas. Fico grata também pela oportunidade de lhe conhecer e te desejo muito sucesso, você merece.

Quem quiser dar uma conferida no trabalho dele, aqui vai o seu blog :
                    http://artedofim.blogspot.com/

                                                                                            
Ana Karoline.