sexta-feira, 30 de março de 2012

Voltando para a Caverna



Ah! O silêncio, finalmente...
A calma, a leveza da vida e da mente.
Sem sons, falas ou ruídos,
Sem pressa, pessoas, TVs e nem gritos.


Do nada chega o povo,
Que me impede de ler.
Ligam a TV para tentar esquecer.
E quando eu saio me perguntam o porque.


Ora! Se você ligou a TV,
Vou para outro lugar tentar me esconder,
Porque na sala não dá mais pra ser.


Fica, vem, senta...
Liga a TV e fica atenta.
Largo ou não largo o livro de lado?
Sento, assisto como o meu amado.


Sentamos no chão
E voltamos a viver na
Caverna de Platão, um mito que
Uma vez lido, não dá mais para ser
Esquecido.

Ana Karoline.

domingo, 18 de março de 2012

Joguete entrevista: Leo Carona


Quem nunca sonhou em sair pela estrada de carona? Conhecer novos lugares, novas pessoas, novas culturas... Hoje, o Joguete entrevista Leo Carona, mineiro e mochileiro popular na rede que um dia decidiu sair em busca do acaso.
E vocês, olho vivo e faro fino!
Nome: Leo Carona
Idade: 24 anos
Profissão: Engenheiro de Software
Vive em: BH/MG
Blog: http://leocarona.com.br/

A entrevista foi cedida pelo facebook, mais precisamente pelo celular, tarde da noite, com certa dificuldade, mas acabou dando certo graças à boa vontade do Leo. Em meio às minhas informações mal arranjadas, interpretações ambíguas das respostas e outras coisas chatas que o Leo foi super gente boa em suportar, deixo aqui meus sinceros agradecimentos.

O que te motivou a virar um mochileiro? Conta essa história pra gente.

Comecei quando morava em Viçosa (cidade universitária de MG). Onde eu resolvia ir visitar meus pais eu não me conformava em pagar ônibus para isso. Já sabia que uma pessoas pediam carona na saída da cidade, e quando eu ia fazer o mesmo, eu tinha certa vergonha ou medo de mofar sem ninguém parar pra me levar. Eu tive que enfrentar isso em mim. Foi difícil, mas consegui enfrentar isso e comecei a viajar mais frequentemente nesse trajeto. Até conhecer a Mah, uma garota do sul do Brasil que me ajudava a baixar um seriado na net, e ela resolveu a sair sozinha com seus olhos claros, pedindo carona pelas estradas do Brasil até minha republica em Viçosa. A levei pra Ouro Preto e carnaval na minha cidade Raul Soares. Por causa dela cheguei ao insight “se eu viajo sempre de carona por esses lados, eu também posso conhecer outros estados além das fronteiras mineiras.” Eu só havia ido à praia mineira até então, Espírito Santo. Eu não me conformava em pagar ônibus pq sabia q sempre tinha gente indo pra minha cidade em carros vazios, q não se importariam em me dar carona.

Nada mais emocionante do que a primeira vez. Você poderia compartilhar conosco a sua primeira viagem e a reação da sua família ao se dar conta de que criavam um peregrino moderno?

Hahaha, realmente o termo 'peregrino moderno' cai bem, já que os clássicos geralmente eram os hippies andarilhos, e eu sou tecnológico d+, e uso muitos recursos cibernéticos nas minhas viagens (como mapas online, redes sociais e comunidades de viajantes q se encontram por internet). Não sei quando foi a primeira viagem, mas foi por volta dos 18 anos. Pra fora do estado eu devo ter ido aos 19 anos, com a Mah, que tinha 18 na época. Quando cruzamos a fronteira a primeira vez, chegamos a Ribeirão Preto. De la, liguei pra minha família e falei pra minha mãe onde eu tava. Ela assustou e a ouvi alarmando ao fundo pro meu pai "ele está em São Paulo!", enquanto eu pensei "ela que não imagina que o plano é ir ao sul", e o lugar mais longe (ao sul) dessa viagem acabou sendo a ilha da magia (Floripa), já em Santa Catarina.

Uma loucurazinha na vida, todo mundo faz. Mas transformar isso em seu estilo de vida não é para qualquer um. Então, o que te convenceu a continuar na estrada?

Aprender, conhecer, ultrapassar minhas próprias fronteiras, me expor a situações inesperadas, e porque não, surpreender (a mim e) às pessoas: ser falado, como um idiota por saber dos riscos, ou como um admirado corajoso q faz algo que poucos se arriscariam, embora tivessem a mesma vontade. De bixa, satanista gótico, drogado ou qualquer coisa do tipo, eu virei o cara que foi parar lá em far far away pedindo carona. (ah, eu nunca fui um adepto as drogas dessa forma, só ironizei os boatos bobos).

Qual a pior coisa que te aconteceu na Infinita Higway, que te fez pensar: "O q eu tô fazendo aqui?" E qual a melhor?

Pensar "O q eu tô fazendo aqui?" eu já pensei um bocado de vezes, geralmente nos lugares onde eu fico sem o que fazer, entediado, ou em estradas onde ta difícil conseguir carona (comum em feriados ou finais de semana). A infinita highway, br 101, já me deu dor de cabeça na altura do sul da Bahia (onde estive duas vezes), no norte de SP (indo pro RJ) e na chegada de Porto Alegre (RS). Ora pq na região é difícil conseguir carona, ora pq chovia sem parar (e conseguir carona de baixo de chuva é foda). Já tive medo, em carona até com cara que assumiu ser traficante, e o q pensei, bolando uma estratégia ao mesmo tempo q não exprimia o q pensava, foi "se rolar algo, abro a porta, jogo a mochila e 'tento' cair sobre ela". Mas nunca rolou nenhum problema. De bom... Uma das experiências mais interessantes foi na Argentina. Além de ter a coragem de pôr um caroneiro desconhecido (eu) no carro 0 km q tinha acabado de comprar em Buenos Aires, o cara ao saber q eu não dava noticias a meus pais há duas semanas, desbloqueou seu celular pra chamadas internacionais e me fez ligar pra eles (q ficaram mt agradecidos, como sempre). Além disso, me pagou um lanche com refrigerante e ainda ligou pro cara que ia me hospedar, entrou na cidade e me deixou exatamente onde ele tava.

Nossa! Vocês se comunicavam em Espanhol?

Então, essa foi a primeira vez fora do país. Eu tive q me virar com um péssimo portuñol, foi meio foda, mas enfrentei (e hj já posso me comunicar bem melhor, sem mesclar com português).

Qual seu maior objetivo em levar uma vida libertina? Como você consegue se manter financeiramente dessa forma?

Não é uma vida, são só um ou dois meses de férias geralmente. Desde o começo (18 anos, 6 anos atrás) sempre estive no sistema (embora não pareça) de aulas na faculdade, e agora (pra diminuir as oportunidades) eu trabalho. Eu sempre ia, me jogava por aí (as vezes sem grana alguma), me sentia e vivia libertino, mas tinha consciência q tinha q voltar (por vontade própria) pra volta as aulas. Sempre gostei de aprender, mas sabia q faculdade era o único lugar onde eu aprenderia mais sobre algo especifico, e não tinha q me esforçar tanto pra obter informações. Eu to empregado, vai dificultar um pouco as viagens mais longas 'a dedo'. Ao chegar dessa ultima viagem (norte brasileiro, Peru e Bolívia) a empresa onde eu estagiava me contratou. Não deixei as viagens de lado, mas ficarão mais difíceis agora. Pro próximo fim de semana mesmo eu ando pensando em dar um pulo na Cidade Maravilhosa, pedindo carona (novamente) pela BR 040. E a questão do financeiro, eu viajei muito por aí a fora sem grana. Meus pais não ajudavam pra essas coisas, e eu tinha meus objetivos de aprender a me virar, de dar a oportunidade das pessoas ajudarem a um desconhecido em sua exposição ao acaso. Sendo ao acaso, tudo que veio pra mim foi lucro.

Você poderia fazer uma listinha dos lugares por onde passou dentro e fora do Brasil?

Vish, posso resumir. Pq to no celular aqui. Já passei (só de carona) por todos os estados do litoral leste brasileiro (do RN ao RS), mais países UY, ARG, CHI. Janeiro agora, cheguei de Rondônia ao Peru de carona, mas dentro do país desisti d caronar. Aí fui pra Bolivia também, cruzando o país em ônibus, servindo também de interprete a dois brasileiros que conheci na chegada ao Peru.

O resto do Brasil já está excluído da sua lista?

Não mesmo, o Brasil não ta excluído, tanto q na ultima viagem eu elegi passar por dois estados nortistas (RO e o lindo AC). É fato q o exterior me interessa bastante, pq eu amo aprender línguas e ainda não sou totalmente fluente em nenhuma além de português. Mas tenho na lembrança muito Brasil, sobretudo lindas praias nordestinas, o Rio, Floripa e bons amigos espalhados por aí.

Você se mantém legalmente nos outros países? Como se dá esse processo migratório?

Pela América do Sul (onde estive até agora) o processo é muito tranquilo: chega à fronteira do país que deseja visitar, busca a aduana (um escritório normal) com seu RG e algum papel adicional (dizem q países como Peru e Uruguay exigem vacina de febre amarela, mas não me pediram), e pronto - te dão um papelzinho de entrada no país que só te resta cuidar pra que ele não molhe, rasgue, ou seja, roubado durante seus dias no país.

Você programa antes todo o seu roteiro de vigem, (o q você vai conhecer, onde vai ficar) ou é tudo "na doida"?

Eu costumava não programar nada, só ia baseado em alguma ideia, como "vou pro sul", e nas cidades que chegava, entrava na net e buscava outras opções de hospedagens (couchsurfing ou conhecidos virtuais) em outras cidades. A partir das respostas positivas de hospedagem, meu percurso se traçava.
Na ultima viagem tentei programar um pouco, com ajuda duma amiga caroneira da Eslováquia q viajou por aqui. Acabei chegando ao Peru e desanimei de seguir viagem sozinho quando cheguei a Cusco.

Algum lugar cujo você se arrependeu de ir? Algum q você gamou tanto que teve vontade de morar lá?

Quando cheguei ao Peru eu me arrependi de ter ido pra la. Acho que o que me passou é que eu me mudei um pouco nos últimos meses e não havia me dado conta disso. Nas outras viagens eu tinha mais tempo de férias (2 meses de férias da faculdade) e eu vivia um pouco mais sozinho (morava sozinho e mal saía de casa). Nos últimos meses eu havia começado a trabalhar (a minha volta agora tem data e obrigação) e fui morar em uma republica com uns amigos de Viçosa, então havia tbm me acostumado a passar mais tempo com colegas e amigos, a não estar tão sozinho.
Eu tava em Cusco (Peru) e dois brasileiros que conheci me ofereceram pagar minha passagem de ônibus pra ir com eles ao Lago Titicaca como seus interprete pra conversarem com os habitantes das ilhas flutuantes). Meu sentimento era o de ficar no gostoso frio de Cusco os últimos 10dias de ferias e voltar pelo mesmo caminho de vinda, de tão desanimado que fiquei com a viagem. Mas aceitei o convite deles, e vi neles possíveis companheiros de viagem, pra me animar um pouco mais. Sugeri voltarmos ao Acre cruzando a Bolívia, mas como eles tinham muitas malas, o meio de transporte teria que ser ônibus. Aceitaram e assim o fizemos: cruzamos as precárias e bizarras estradas bolivianas em ônibus (passagens exageradamente baratas) e nos hospedamos em hostels (não havia CouchSurfer na maioria das cidades), coisa que eu devia ter feito não mais que três vezes na minha vida, mesmo já tendo viajado tanto.
O litoral brasileiro é lindíssimo, sempre quero voltar. Não costumo me fixar muito com nenhuma cidade pq sempre quero conhecer outras. Mas, o Rio de Janeiro é a única cidade brasileira que quero morar, se eu não me mudar pra fora do país direto. Acho o Rio lindo, cheio de opções de lazer que me interessam e aumentam minha motivação pra ter tbm uma vida rotineira de trabalho, sem contar que agora há um garoto por la, e muitos gringos pra facilitar minhas práticas e aprendizado de outros idiomas (tem muitos que ainda quero aprender).

Muitas pessoas têm uma visão romântica a respeito dessa vida andarilha, idealizando e deturpando a realidade da rotina de um mochileiro. Você poderia desmistificar essas fantasias ou alimentá-las ainda mais (risos)... Conte-nos como é pedir carona nas estradas brasileiras.

Bom... A falta de dinheiro é a principal desculpa das pessoas para não viajarem. Até que chega o dia que a desculpa muda: elas passam a não ter mais tempo, porque estão trabalhando muito. Aí elas ficam velhas, e dão conta que traçaram uma ótima carreira profissional ao longo de suas vidas, ou que pelo menos conseguiram se manter vivas pagando por algumas das coisas que quiseram. Acho que isso não deve ser o principal, fica faltando às pessoas e outras vivências. Se tem uma coisa que é legal fazer, e é legal que façam por você, é a prática da gentileza. E pode acreditar, tem muita gente desconhecida por aí disposta a ser gentil com você, assim como foram e são comigo. Mas preste atenção: nem tudo que você quiser será possível (o que te ensinará a não exigir coisas - sobretudo conforto - demais), e você aprenderá a dar mais valor ao que realmente é necessário. Muita gente vai te dar a oportunidade de conhecer e experimentar coisas que você não teria o direito (o dinheiro) de conhecer, e aquelas que forem mais inesperadas provavelmente serão as mais marcantes. E quando você perceber, você terá caído no ciclo: estará ajudando (ou dando o direito) das pessoas conhecerem coisas que dificilmente conheceriam sem você.

sábado, 3 de março de 2012

A doença de hoje é o presente.




Nem tudo é só tristeza, nem tudo é só beleza e mesmo que as nuvens negras venham se alastrando por sobre nós, a luz do mundo ainda clareia boa parte da Terra.

Nos últimos anos o planeta tem sofrido mudanças muito drásticas, foi em muito pouco tempo que muita coisa aconteceu e vem acontecendo, pela espreita, nos dominando/contaminando silenciosa e inconscientemente.

O psicólogo Yves de La Taille disse no programa Café Filosófico, na TV Cultura, que estamos vivendo mais do que nunca o presente. O que por um lado é bom, sempre nos disseram e tentaram enfiar na nossa cabeça que o presente é o que importa, isso não seria uma noticia ruim se o presente fosse realmente tão bom como sempre disseram.

Viver no presente exige de nós um nível extremo, do qual nós ainda não estamos preparados – digo nós, cidadãos comuns, ou pelo menos eu, me considero com um nível intelectual ainda muito baixo para entender e equilibrar certas coisas - viver no presente nos leva a loucura.

Para tomarmos conhecimento de mais coisas e mais rápido, as noticias se tornaram fragmentos, são rápidas, pequenas e logo esquecidas para que novas venham à tona.

Não posso mais me dedicar exclusivamente a nada, pois o que hoje é Cult, amanhã já é brega, todos os dias surge uma nova visão, tudo se tonou tão rápido, fácil, passageiro...presente.

A internet é a mãe da vida no presente, esse novo estilo de vida louco, do qual entramos sem nem perceber.

Tomarei como exemplo as redes sociais, mais especificamente o FACEBOOK, no mundo dele o ontem não importa mais, tamanha é a carga de publicações e atualizações diárias, o que vamos postar amanhã não interessa, o quente é  de hoje, é o que o pessoal está falando e fazendo naquela hora, isso vicia, as pessoas não conseguem mais viver sem saber o que está acontecendo AGORA, e passar um tempinho sem olhar as atualizações é como perder uma 
parte muito importante do dia, da vida.

Na Bíblia diz que só um tolo pensa em viver o dia de amanhã, porque já basta o mal que o dia de hoje já trás, a Pitty fala em uma música sua para não deixarmos nada para a semana que vem, pois semana que vem pode nem chegar, e também Renato Russo: mas é claro que o sol vai voltar amanhã, mais uma vez, eu sei...

Eu também sei que cada um vive a sua vida da maneira que quer, saudosista, futurista...não importa, só que viver inconscientemente as coisas é perigoso e quando a gente acorda nos sentimos tão enganados, usados...

Todo mundo está tão preso a essa teia de aranha que é a internet, somos a “geração da informação”, para todo canto que se olha tem um jovem com o celular nas mãos, a vida de momentos passageiros, não dá mais para se viver intensamente nada, é perda de tempo e ninguém mais que perder tempo...

Acordamos finalmente, a vida não é eterna, temos que aproveitar o hoje, nossa juventude, nossa saúde. Mas não podemos viver só de presente, apesar de o tempo ser relativo, mas o passado não pode ser esquecido, nem o futuro pode deixar de ser pensado, presente demais envenena, aliás tudo demais faz mal.

Essa ânsia súbita de viver já matou e continua matando muita gente, outras vivem doentes, presas a tela presente do computador, inertes, só engolido fragmentos, se atualizando rápido, enchendo a cabeça de retalhos e logo esquecendo para depois encher de mais nada.

Ana Karoline.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Observatório



- Nada a fazer...só observar o homem da frente.

   Ele mora sozinho, foi o que eu pude perceber, e amigos que vem de vez em quando e eles desatam a beber.

   Tem dias em que ele vai até a janela e fica a observar a imensidão do céu, com  seu cigarro na mão à fumaçar, um tanto reflexivo, um tanto solitário, mas sorri, quando está entre amigos.

   Depois da meia – noite, só a cerveja é sua companheira.

- No andar um pouco mais embaixo ao dele, aconteceu um aniversário surpresa, vi os preparativos e as luzes se apagando, quando a mulher da frente chegou, começaram a cantar em uníssono  parabéns pra você...

   Ela ficou feliz, abraçou os que estavam presente e ficaram comendo as guloseimas que só aniversário tem.

- Lá em baixo, o homem de trás chegou do trabalho, tocando Linkin Park em seu rádio, pegou suas coisas e foi para seu apartamento.

- Voltando o olhar para o homem da frente, ele está a fumar na janela, o que se passa em sua mente? Quais seus dramas? Seus desejos, sonhos, vontades? Qual seu nome?

- A mulher da frente, feliz, uma ano mais velha, amigos legais que fazem festa surpresa, mas, o que lhe faz chorar? Seus pais ainda estão vivos? O namorado é fiel? Ela é realmente tão feliz quanto aparenta ser?

- O homem de trás, chegou aparentemente cansado do trabalho, será que tem uma esposa que o espera com amor ou está pregada em frente a uma televisão assistindo novela? Será que ele tem filhos? Gosta de sua vida? Ou não tem esposa? Vive sozinho?

- E eu aqui, na minha janela, só a observara vida alheia, por que as vezes é tão necessário saber o que os outros estão fazendo? Será que é para nos certificarmos de que há vidas mais difíceis do que a nossa, ou nada mais que simples curiosidade?

   Ou pela necessidade de vermos que não estamos sozinhos nessa, que na vida há diversas formas de sofrimento, de dor, de alegria, de vida...mesmo sem nos conhecermos sinto que eles – esses personagens – fazem parte da minha vida.

   Sim, eles são meus vizinhos de condomínio, mas nunca passamos um pelo outro, nunca nos desejamos bom dia, nunca trocamos olhares.

   Eu vivo, eles também, cada qual com seus afazeres, cada um com seu charme, seus interesses, sua profissão...não sei se por eles minha presença é notada, não sei se eles sabem da minha existência, mas continuo aqui a observá-los e a nutrir esse meu interesse pelo homem misterioso da frente.

                                                              ...

- A garota da frente tornou-se a minha inspiração, ela mora sozinha, e fica horas a fio naquela janela desde quando chega não sei de onde, fica a observar alguma coisa, o que será que ela pensa? Qual será seu nome?

   Acabei de arrumar um assunto novo para o meu livro, vai ser sobre o modo como vivemos em um mesmo lugar e mesmo assim tão separadamente.

- Enquanto eu fumo meu cigarro, no andar de baixo ao dela, eu vejo um casal que...


Ana Karoline.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O Balão





Eu estava no meu quarto de apartamento, era de tarde, o sol estava quase se pondo. Pus meu livro de lado e fiquei a contemplar o céu.

De repente vi que uma coisa entre os prédios se movia, era um pouco lento, mas movia-se. 

Aquilo me chamou  a atenção, pela sua cor e forma.

Saí do meu quarto, fui em busca daquele que subia, lá fora pude perceber que ele estava sendo controlado por alguém, era por um homem que mora no bloco de lado ao meu, ele estava na janela.

Fiquei a contemplar o balão de gás e cor alaranjado que subia como um chamado aos que em baixo o observavam.

De repente uma curiosidade me invade, eu precisava saber quem era aquela pessoa que estava controlando aquele balão.

E fui, andei alguns passos até a entrada do bloco de apartamentos da frente, fiz uma rápida contagem do número do andar de onde saiam os balões.

Até que ele solta outro, então, é dali que o outro saiu, pego o elevador.

Bato na porta, depois de alguns segundos ela é aberta, um homem me pergunta o que eu quero, quando de repente uma garotinha loira chega por entra suas pernas abraçando-as.

Eu sorrio meio sem graça, a garotinha pergunta se o pai dela não vai me mandar entrar. Ele também dá um sorriso e diz: - Mas minha filha nem sabemos  que ela quer. – E olhado para mim, ele pergunta - :  o que você deseja?

Eu falo do balão e explico que era uma história idiota, mas é que eu senti como se o balão me chamasse.

Ele abriu mais a porta e me chamou para entrar. Sentamos no sofá e a garotinha ficou a brincar com as fitas coloridas que tinha no chão, provavelmente materiais para a construção de outros balões.

Também é uma história idiota – ele diz – mas é que minha esposa gostava muito de balões, e quando ela morreu eu e Sara nos mudamos para cá – ele hesita e pouco, mas continua – um certo dia quando eu estava pondo ela pra dormir ela me perguntou como era que a mãe dela ia nos achar quando voltasse... e para fazê-la dormir eu enchi uma bexiga, escrevemos nossos nomes e ela soltou pela janela.

- Nossa, é uma história cheia de emoção! – disse eu, mais por não ter o que dizer, tamanha a minha emoção.

- E até hoje a gente solta esses balõezinhos que nós mesmos fabricamos – disse ele em meio a um sorriso – não é filha?

Ela apenas mexeu a cabeça afirmativamente sorrindo e disse de cabeça baixa: - Ela voltou papai! – olhou pra mim e sorriu.

Eu meio que desconsertada me levantei: - Bom, eu já estou indo.

- Não dê atenção ao que ela disse, é que ainda é muito recente tudo o que aconteceu, me desculpe – disse ele.

- Não tem problema, bom, me desculpe também por ter vindo até aqui, nossa...

- Se quiser voltar mais vezes, fique a vontade, para a gente tomar um café não sei...

- Tudo bem, mas já vou indo.

- É... como você se chama?

- Me chamo Amanda.

- Eu sou Julio – estendendo a mão – prazer.

Depois que saí de lá não mais parei de pensar nisso que aconteceu, o sorriso não saia mais do meu rosto, foi como se finalmente eu tivesse me encontrado, entrei em casa, voltei para o sofá onde eu estava e peguei o livro...mas que doideira essa que eu fiz...

- Viu pai, o nome dela é Amanda, finalmente a mamãe encontrou o caminho de casa.


Ana Karoline.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Mais pesado que o céu – Sobre a biografia de Kurt Cobain.



Finalmente terminei de ler a biografia de KURT COBAIN, uma história bem triste que me deixou um pouco triste, por trás da imagem sensacionalista de ser um drogado suicida, Kurt sofreu muito durante os seus 27 anos.

Ao saber da morte do filho a mãe de Kurt fez a seguinte declaração: “ Agora ele se foi e entrou para aquele clube estúpido. Eu disse a ele para que não entrasse para aquele clube estúpido.”

Ela estava se referindo a coincidência de Jimi  Hendrix, Janis Joplin, Jim Mirrison e Kurt haviam morrido aos 27 anos de idade. “ Eu nunca mais vou abraçá-lo novamente. Não sei o que fazer. Não sei para onde ir.” – Completa ela.

É incrível a falta que faz uma pessoa quando morre, e mais incrível ainda é ver que tudo isso foi o resultado de uma separação, quando criança os pais dele se separaram e foi aí que começou o seu pesadelo.

Apesar de que desde criança Kurt tinha um certo ar “especial”, tinha um amigo imaginário, era mimado por todos...ele queria mais do que tudo ser um astro do rock e quando conseguiu, não agüentou... no final das contas percebeu que não era aquilo que o preenchia, já no fim, poucos minutos antes de cometer suicídio ele escreveu uma carta:

“ Faz muitos anos agora que não sinto entusiasmo ao ouvir ou fazer música, bem como ao ler ou escrever. Minha culpa por isso é indescritível em palavras. Por exemplo, quando estou atrás do palco, as luzes apagam e o ruído ensandecido da multidão começa, nada me afeta do jeito que  afetava Freddie Mercury, que costumava amar, se deliciar com o amor e a adoração da multidão. O que é uma coisa que eu totalmente admiro e invejo. O fato é que eu não consigo enganar vocês, nenhum de vocês. Simplesmente não é justo para nenhum de vocês, nem para mim. O pior crime que eu posso imaginar seria enganar as pessoas, sendo falso e fingindo que estou me divertido 100%. Tentei tudo que esta em meus poderes para gostar disso (e eu gosto, Deus, acreditem-me, eu gosto, mas não o suficiente).

Me agrada o fato de que eu e nós atingimos e divertimos uma porção de gente. Devo ser um daqueles narcisistas que só dão valor as coisas depois que elas se vão. Eu sou sensível demais. Preciso ficar um pouco dormente para ter de volta o entusiasmo que eu tinha quando criança. Em nossas últimas 3 turnês, tive um reconhecimento por parte de todas as pessoas que conheci pessoalmente e dos fãs de nossa música, mas ainda não consigo superar a frustração, a culpa e a empatia que eu tenho por todos. Existe o bom em todos nós e eu acho que simplesmente eu amo as pessoas demais, tanto que chego a me sentir mal. O triste, o sensível, insatisfeito, pisciano, pequeno homem de Jesus. Porque você simplesmente não aproveita? Eu não sei! Tenho uma esposa que é uma deusa, que transpira ambição e empatia, e uma filha que me lembra demais de como eu costumava ser, cheia de amor e alegria, beijando todo mundo que encontra, porque todo mundo é bom e não vai fazer mal e ela. Isto me aterroriza a ponto de eu mal conseguir funcionar.
Não posso suportar a idéia de Frances se tornando o triste, o autodestrutivo e mórbido roqueiro que eu virei. Eu tive muito, muito mesmo, e sou grato por isso, mas desde os 7 anos de idade, passei a ter ódio de todos os seres humanos em geral. Apenas por que eu amo e sinto demais por todas as pessoas, eu acho. Obrigado a todos do fundo do meu nauseado e ardente estomago por suas cartas e sua preocupação nos últimos anos. Eu sou mesmo um bebê errático e mal-humorado!  Não tenho mais a paixão, então lembrem-se, é melhor queimar do que se apagar aos poucos”
                                                      Paz, amor, empatia, Kurt Cobain.


Você pode observar a tamanha amargura que Kurt sentia, realmente ele chegou ao seu limite, ele teve vária overdoses, e mesmo assim sobreviveu, vivia no limite humano, foi a vários psicólogos, se internou diversas vezes, Kurt era um artista, fazia esculturas, pintava, produzia as próprias capas dos seus discos, capas muitas vezes absurdas que refletiam nada mais do que o que se passava dentro dele.

Ele só queria por fim em tudo o que ele já não suportava mais, não queria apenas buscar um refúgio como ele fazia com a heroína, ele queria por um ponto final em tudo aquilo que ele tentou esquecer sem conseguir.

“ Seus dois tios e bisavô haviam seguido essa mesma pavorosa trilha e eles haviam vencido, ele sabia que também conseguiria. Ele tinha os “genes de suicídio”, como costumava dizer brincando com seus amigos em Grays Harbor. Não queria nunca mais ver o interior de um hospital novamente, não queria um médico de jaleco branco apalpando-o, não queria ter um endoscópio em seu estomago dolorido. Ele estava acabado para aquilo tudo...

...guardou tudo isso como a única cura para uma dor que não passaria. Ele não se importava com a libertação do desejo, ele queria a libertação para a dor.”

Depois de completado o ritual que ele passou anos apenas encenando em sua cabeça, ele ... “agarrou a pesada espingarda, encostou o cano contra o céu de sua boca. Faria barulho: ele tinha certeza disso. E então ele se foi.”

E para finalizar, no funeral Kurt, Courtney fez uma gravação que foi reproduzida para os fãs, ela leu a carta e misturou com comentários dela:

“Quando leu a parte em que Kurt mencionava Freddie Mercury, ela gritou: Para Kurt, porra! E daí? Então não seja um astro do rock, seu imbecil. Onde ele escrevia sobre ter “amor demais”, ela perguntou:  Então, porque você não ficou?       E quando citou a passagem que dizia “ o sensível, insatisfeito, pisciano, pequeno homem de Jesus”, ela lastimou: Cale a boca, safado! Por que você não aproveitou? Embora ela estivesse lendo o bilhete  para a multidão – e para a mídia - , ela falava como se Kurt fosse seu único ouvinte...

...eu não sei o que poderia ter feito. Eu gostaria de poder ter estado aqui. Eu gostaria que eu não tivesse ouvido as outras pessoas. Mas eu ouvi.”

Pois é, gente... a vida inteira de Kurt Cobain foi marcada por grandes dramas, e como eu falei no começo, ele não era apenas um cara drogado e suicida que cantava rock, lendo essa biografia você consegue entender mais ou menos tudo o que ele passou, todo o caminho em que ele percorreu para chegou ao destino final que ele mesmo decidiu qual seria. No final, lendo sobre a missa, a dor da Courtney, a saudade, a incompreensão, tudo isso é de arrepiar... aquele homem ali sofreu demais...

Se você é um fã de Kurt Cobain, eu sei que chegou até aqui e por isso vou re-escrever somente mais algumas considerações, essa foi o padrasto de Kurt que fez: “ Ele tinha o desespero, não a coragem, para ser ele mesmo. Uma vez que você tem isso, você não pode dar errado, por que você não pode cometer nenhum erro quando as pessoas o amam por você ser você mesmo. Mas, para Kurt, não importava que as outras pessoas o amassem: ele simplesmente não se amava o bastante.”

Mesmo em meio de uma vida extremamente conturbada, Kurt animou muita gente, sorriu, brincou, se divertiu, encontrou o amor de sua vida: Courtney Love, que depois da morte do marido se tornou uma mulher meio doida,(ela já era um pouco), como eu pude perceber pela entrevista que ela deu a Mtv, quando ela se apresentou em 2011 no festival SWU, Frances, sua filha que hoje tem 19.


Assim como Kurt não queria que ela tivesse seu mesmo destino, parece que ela vive super bem,está noiva de um vocalista de banda que lembra muito o Kurt :X,  e claro herdou os lindos e inesquecíveis olhos azuis de seu pai – Kurt Cobain- .

Enfim, não dá para falar em poucas palavras desse livro e sobretudo de Kurt Cobain, então o jeito é ler o livro mesmo galera, então se você é fã não pode deixar de ler, é uma história emocionante, e apesar de eu ter encontrado um monte de blog com pessoas falando que o amor da Courtney é falso, que ela só se casou com ele para pegar carona na fama dele e trazer publicidade para a sua banda e de ter mandado matar Kurt e que criou a filha deles numa cultura capitalista e que ela não tem nada haver com Kurt, eu acredito no amor deles... apesar de que só podemos especular, pois eu e muitos fãs e principalmente os jornalistas de tablóides sensacionalistas não convivemos com eles, e só o que tem por aí são fofocas e mentiras, mas também tem gente comprometida com a verdade ou que buscou o máximo da verdade possível para escrever esta biografia que todo fã de verdade tem que conferir!!!

( HEAVIER THAN HEAVEN) = Mais pesado que o céu – Uma biografia de Kurt Cobain; de Charles R. Cross


                                                                                                  Ana Karoline.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Pertencer




Encontrando-se num estado de alto êxtase,
a menina tenta pertencer, entrar em meio a
notas musicais, se entregar e encontrar o que
falta sem necessitar morrer.

Quando dorme, tudo é  tão completo, tão cheio
de matéria, de sentimento, de necessidades preenchidas.
Companhias sentidas, palavras faladas sem medo,
só no mistério do subconsciente a realização é
extremizada e vivida, sentida com toda a alma.

Quando dorme, se entrega sem medo,
sem falha, é um sentimento de vida plena,
não existe um: não querer acordar.
É um terreno tão individual, tão acolhedor,
se conhece cada passo que dá nele.

Se vive, se sente vivo, lá é o lugar, o espaço,
o que existe, o real, é o que eu sonho quando durmo,
meu lugar de refugio, o analgésico para a dor da vida.

Ana Karoline.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

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Presos aqui...
Condicionados a alguns anos de espera.
Escravos do tempo.
Somos seres encarcerados na mesma medida em que somos livres.
Personagens, bonecos de papel, marionetes...
Manipulados por um Deus, por uma ordem, por uma lei,
pelo tempo...
Um sol e uma lua que passam, ponteiros de um relógio que marcam.
Células trabalham, se regeneram, cansam, envelhecem...morrem.
E o tempo passa, o tempo não para.
E a gente tenta se agarrar ao presente de todas as maneiras mediocremente humanas.
Plásticas, horas no salão, estética, beleza, jovialidade... nada de eterno se compra.
E o tempo passa...
De resto só a lembrança, os passos, os caminhos percorridos e uma nostalgia que chega a doer.
Os ponteiros correm, as páginas do calendário são arrancadas descompassadamente.
Um grão preso no tempo, fazendo pequenas obras para se sentir completo.
Vivendo em um tempo que não liga, não perdoa, é indiferente, passa por cima de tudo e de todos, de histórias...
Frio, não se apega, não se lembra, não sente, o tempo não para, só passa e sempre nos leva para o fim, para a morte, para além da sorte.
                                                                                              Ana Karoline.