terça-feira, 8 de novembro de 2011

Lendas: A Boneca do Bom - Bom


Com a chegada do fim do ano sempre uma nostalgia nos contagia...

Lendas

·               Boneca do bom-bom – A origem

                                           

Quem estuda no Patronato há certo tempo deve ter noção dessa história só pelo título. Reza a lenda que uma aluna do Colégio era a dona de uma boneca. A aluna morreu, logo depois do triste episódio, a boneca começou a ser usada como manequim pelas irmãs na secretaria, para mostrar o modelo do uniforme. Parece que ao longo dos anos o espírito da menina que morreu apoderou-se da boneca. Bizarro, não é? O motivo da nomenclatura “Bom-bom” ninguém sabe ao certo, existem várias versões, mas todas giram em torno de uma atitude relacionada à boneca e um bom-bom. Há alguns anos, alunos se sentiram profundamente atormentados por tal fato, chegando ao ponto do antigo diretor Padre Marques expor a boneca no pátio da escola (Sim, a boneca que era modelo realmente existia e ficava guardada em uma sala de antiguidades) e com estas palavras ele tentava acalmar os alunos que se encontravam em estado de pânico: “- Ela é só uma boneca. Ela não faz nada” (sacolejando a boneca para todos verem sua inércia). Não viu nada de interessante nessa história? Na verdade contamos tal lenda para introduzir um conto verídico. Pode parecer idiota, mas se tiver paciência, leia, pois a seguinte história jamais foi divulgada. Ela é tão real que está comprovada por meio de fotos e mapas que remontam planos arduamente trabalhados. Mas ATENÇÃO: só leia o parágrafo seguinte se tiver vontade de fazer isso.

·               Boneca do bom-bom – Ressurgindo das cinzas.

                                       

Dois Mil e Oito - Primeiro Ano - Ensino Médio. Era Setembro, mais precisamente no dia dez. Os primeiros chuviscos avisavam o retorno do inverno.  Corriqueiramente, quando se aproxima o final do ano letivo, jovens complexados tendem a bolar estratégias mirabolantes para serem finalmente vistos e lembrados pelo resto do Colégio, deixando assim seu legado para as gerações futuras. 

Com duas adolescentes em pleno conflito de identidade também não foi diferente. Estavam eufóricas, pois há tempos não passavam por fortes emoções. Extasiadas pelo romantismo policial e lírico como as jovens do século XX, desejavam profundamente sentir aquilo que admiravam em filmes e livros, a adrenalina. 

Atônitas, queriam encontrar uma forma de mexer com toda a sociedade patronatense e degustar os olhares confusos e surpresos de todos, enquanto suas identidades permaneciam ocultas e seus olhares dolosos perdiam-se na multidão admirada com a cena. Foi nessa manhã que tiveram uma das suas mais esdrúxulas idéias: Fazer renascer das cinzas, a lenda já esquecida da BONCECA DO BOM-BOM. Pediram a ajuda de um ex-aluno que já era acostumado a realizar brincadeiras desse tipo. O amigo conseguiu mais um comparsa, carinhosamente apelidado de “Boca do Inferno”, mas não pelas características culturais similares com o poeta Gregório de Matos, mas por seu protótipo físico de lábios e arcada dentária. Semana de provas, as duas criaturas abobalhadas foram fazer uma “visitinha” à sala da Coordenadora da Educação Infantil (Meiriane) e estudar o local. Afinal, de onde elas poderiam tirar a boneca para realizar a tal proeza? O território foi estudado e um dia depois se consumou o furto da boneca. Obviamente não era a verdadeira, mas isso não importava, o plano exigia uma boneca, qualquer boneca. A respiração ofegante acompanhou os passos das garotas até o armário de madeira branco, muito antigo por sinal, o que era um charme do estabelecimento. Uma delas vigiava o ato, enquanto a outra arrastava do armário qualquer boneca, a mais próxima possível. 

Após o infortúnio, as duas corriam freneticamente enquanto driblavam a recepcionista obesa e mal humorada. Ao passo apressado uniam-se as gargalhadas impiedosas, quando caminhando fora do Colégio. Sentiam o corpo todo tremer e uma adrenalina jamais imaginada. Talvez isso parecesse medíocre para todas as pessoas, se soubessem do ocorrido, mas não para elas, para elas aquilo era mais do que uma travessura inútil, pois uma bobagem só pode torna-se relevante, quando as pessoas delimitam um valor necessário para isso.  E foi o que elas fizeram, transformando uma atitude imatura em um parque de diversões. 

Quando olhavam para a bolsa e viam aquela boneca abarrotada dentro, jorravam-se rios de lágrimas conseqüentes das risadas incontroláveis. Mais tarde chegavam à casa do amigo da pesada, onde estipulavam a hora para queimar a boneca. A tão esperada noite chegara, saíram sem rumo os quatro, só mantinham um objetivo em mente, queimar a inocente boneca de cabelos castanhos e transformá-la em algo assustador. Finalmente encontraram um lugar pouco movimentado, Ponte do Vapor, depois de acender um cigarro para provar que era um macho viril, o rapaz ateou fogo em uma sacola e logo a boneca foi ganhando novas feições, assustadoras por sinal, careca e sem roupa, estava assim consumado o fim da combustão de uma boneca sutilmente apelidada de Bom-bom. 

Risos frenéticos eram praticamente expelidos de crianças crescidas no meio da rua, pessoas passavam e ousavam pensar em drogas, sexo ou qualquer outra coisa proveniente da cena ali realizada, mas nunca pela cabeça dos demais passavam travessuras infantis de escola.  Os dias passavam e o plano era pendurar a boneca queimada em um corredor ao lado da pequena quadra que era o contrário dos banheiros, ao redor dela acenderiam velas coloridas e escreveriam as mais diversas bobagens para amedrontar os alunos. Atolados em seus utópicos pensamentos estudaram o local e articularam toda a entrada sem que o vigia percebesse. 

Mas como simplesmente TUDO na vida das infelizes criaturas tem que dar errado, no dia a idéia foi interrompida, e tudo desandou, na manhã seguinte, foram dar uma olhada no local, pois haviam abandonado tudo nas mãos dos meninos, não encontraram nada, uma grande decepção, apenas alguns vestígios de rabiscos na parede. Mas os meninos logo após informaram que eles fizeram o combinado. Até hoje não se sabe o que verdadeiramente aconteceu. Será que a tia Magda limpou tudo? Ou foi outra pessoa? Só restaram as dúvidas.
                                           
                                           

                                                    Ulyane Vieira.