sábado, 3 de dezembro de 2011

Joguete entrevista: Alessandro Reiffer.


                                                                              



O Blog  Joguete do Destino, divulga hoje a entrevista feita com o poeta Alessandro Reiffer, de Santiago, Rio Grande do Sul.

Santiago é conhecida como “A cidade dos poetas”.

Sim, ele é gaúcho, e diferente dos que aqui – Itapajé – habitam, ele é um cara bem bacana e profissional naquilo que faz.

Ø  Ficha:

Nome: Alessandro Reiffer

Idade: 33

Formação: Formado em Letras e em Administração pela URI – Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus Santiago

Profissão: Escritor e Professor

1-Acredito que aqui no Ceará você não é conhecido, com essa entrevista talvez você terá um pouco de repercussão por aqui, então eu gostaria que você se apresentasse, quem é Alessandro Reiffer?

Costumo me definir de maneira bastante simples e direta, embora, talvez, um pouco estranha: um Arauto do Fim.

2-     Você já lançou seu segundo livro – (Poemas do Fim e do Princípio) – como você vê o futuro dos livros impressos, eles vão continuar sobrevivendo por muito tempo ou você acha que os livros digitais daqui a algum tempo vão dominar total? Lembrando que você também o lançou em formado digital não é mesmo?

Acredito que o livro impresso não irá desaparecer, não pelo menos num futuro próximo, porque ainda há muitos leitores que não o trocam pelo digital, eu mesmo prefiro os impressos. Mas não há dúvida que irá perder cada vez mais lugar para os digitais. Foi pensando nisso que lancei meu segundo livro também em formato digital, que é bem mais barato e mais ecologicamente correto que o impresso. Inclusive o digital tem tido mais saída.

3-     Santiago é tida como “A cidade dos poetas”. Sua influencia inicial partiu do lugar em que você vive, foi aos poucos adquirindo talento por ler obras de outros escritores que não seja daí ou é genético? Alguém da sua família também escreve?

 Não, não acredito em influência do lugar onde vivo, ou genética, porque sou o único escritor de minha família. E o fato de se ler bastante não faz de ninguém um poeta. Há muitas pessoas que leem muito, até mais do que eu, mas não conseguem escrever um só poema autêntico. Na verdade, já se nasce poeta ou não poeta. É da alma. Se não se nasceu poeta, nunca se será um.

4-     Mesmo que você não viva exclusivamente da literatura, sua família teve certa resistência ou você é bem apoiado? Tinha vergonha de mostrar o que escrevia para as pessoas de tua família, ou até mesmo amigos no inicio? Se sim, porque?

 Minha família sempre me apoiou, e continua me apoiando. Não, nunca tive vergonha de mostrar qualquer trabalho, mesmo que depois descobrisse que ele não era tão bom quanto eu pensava, rs. Um poeta não deve ter vergonha do que escreve, se tiver, não deve escrever. Deve escrever. Se os outros gostam ou não, aí já é outra questão.

5-     Já é uma espécie de tradição perguntar a escritores sobre a nova literatura que está monopolizando a juventude. Não é preciso nem citar nomes, porque todo mundo já sabe do que se trata. Qual sua opinião sobre Best Seller, e sobre essa força que eles ganharam na literatura e no cinema? E vindo de você, um autor que de certo modo tem aspectos vampirescos, o que acha dessa nova roupagem que os vampiros estão ganhando?

 Quanto aos vampiros, sua origem e significado foi totalmente distorcida e degenerada pela mídia. Tudo que vira moda se degenera. Os vampiros autênticos não existem mais nem na literatura nem no cinema contemporâneos. Quanto aos Best Sellers , deixarei uma frase de Einstein: “O que é muito popular, é muito ruim.” Ela fala por si próprio.

6-     O que você acha daqueles filmes antigos com mansões e aquela sala de biblioteca enorme, aquele piso de madeira, etc...Atualmente não é preciso nem ser mansão, qualquer pessoa pode montar em casa sua biblioteca particular, mas qual a sua opinião sobre a quantidade de árvores que poderia ser preservada se não fosse o enorme uso de papeis para a impressão de tantos livros que existem no mundo, não só os de literatura, mas todos no geral?

 Acredito que os livros contribuíram muito pouco para a devastação florestal, se comparado com outros produtos, embora também tenham contribuído. Há coisas que causaram muito mais devastação, como a agropecuária e o avanço das cidades. Mas claro que hoje em dia, com os livros digitais, há mais um motivo para se evitar a devastação, evitando os livros impressos sempre que possível.

7-    A sua poesia é cercada por uma áurea sombria. O frio da região sulista, marcada por resquícios europeus e de um hibridismo sul-americano tem alguma coisa a ver com o seu estilo?

 Sim, tem a ver, claro, também me influencia, embora não seja decisivo. Se eu vivesse em um local quente, creio que escreveria quase que da mesma forma. Mas não há dúvida que o clima e as características da minha região estão presentes em minha obra, consciente e inconscientemente.

8-     Muitas vezes suas palavras deixam transparecer uma espécie de submundo no qual você se encontra. Qual a sua relação com esse submundo adotado como o seu ambiente poético? Existe algum lugar especial – físico – onde você entra em contato com o seu submundo? Existe alguém que te transpareça esse lado sombrio?

Não, um local físico não existe. Meu “submundo” está dentro de mim mesmo. Posso entrar em contato com ele a qualquer momento e em qualquer lugar. Claro que há situações que o favorecem, principalmente quando estou em contato com a arte, seja música, literatura, pintura, cinema, enfim...

9-  A maioria dos escritores começou a desenvolver sua técnica bem cedo, como Clarisse Lispector que publicou seu primeiro conto aos 14 anos, Fernando Sabino que teve um conto premiado aos 13 e Rimbaud que “aos 17 anos era um caso sério da literatura”. Como foi sua iniciação na literatura? Existe algum “anjo da guarda” cujo você deve alguma gratidão?

 Escrevi meu primeiro poema com 8 anos de idade. Mas não dei continuidade. Somente aos 14 anos comecei a escrever de forma mais frequente, e, com 15 anos, publiquei meu primeiro poema. Mas não teve nenhuma pessoa que tenha sido decisiva para isso, apenas eu mesmo, a necessidade de minha alma. Se devo agradecer a alguém, é a meus pais, que sempre bancaram meus gastos com livros e para a publicação dos poemas e contos.

1o-  Relacionando a sua poesia sombria, gótica, você sempre se encontrou nesse campo, aos poucos foi descobrindo sua própria estética ou teve de certa forma a intervenção de alguém?

A minha poesia tem elementos do gótico, mas não se limita a isso, pelo contrário. Desde que comecei a escrever, os temas sombrios surgiram sempre naturalmente, não foi propriamente uma escolha de temas. Eles surgem por si mesmos, a minha tendência é essa, o que não significa que seja sempre assim. E, claro, não teve a intervenção de nenhuma pessoa.

11- Como você define seu estilo atualmente?

 Literatura de Ocaso

12- O que você mais gosta de ler (conto, crônica, romance, técnico)?

 Poesia, contos e romances, dentro da literatura. A crônica me chama menos a atenção, mas não que não a aprecie. Evito os Best Sellers. Fora da literatura, leio com menos frequência, mas leio de tudo, filosofia, ciência, história, jornais, revistas, livros de ocultismo... Apenas não leio livros técnicos.

13- Alguns escritores acham saudável ler algo totalmente diferente do que estão escrevendo, quando estão escrevendo. Você também é assim?

Sim, é interessante, mas não é algo que eu siga como um padrão. Posso ler, posso não ler.

14-  De tudo o que você já escreveu até hoje, o que ou qual te trás mais orgulho?

 Sinceramente, não sei. E nunca parei para pensar sobre isso, rs.

15- Ao longo de sua formação quais os 5 principais autores que mais impactaram sua vida, suas 5 maiores inspirações, eles ainda são os mesmos de hoje em dia? Se não, quais são os de agora?

Os 5 que mais me impactaram: Edgar Allan Poe, Johann Von Goethe, Dante Alighieri, Fernando Pessoa, Victor Hugo. São e serão sempre esses.

16-   Você prefere literatura nacional ou internacional? Por quê?

 Prefiro a internacional, como se pode perceber pelos autores que mais me impactaram. Simplesmente porque a literatura internacional é bem mais ampla e mais rica que a nacional, e há autores com que me identifico muito mais. Mas não desdenho a literatura nacional (quem sou eu para o fazê-lo?), pelo contrário, temos nomes que muito me influenciaram e continuam me influenciando.

17- Relacionado à música, quais seus gostos? E qual sua opinião sobre a música brasileira, ela tem qualidade?

Sou um grande amante da música erudita, é o que mais escuto, e ela muito me influencia em meus escritos. Mas também aprecio alguns estilos e bandas dentro do rock, do metal, do eletrônico. E também aprecio a música nativista gaúcha.

Claro que a música brasileira tem qualidade, mas desde que se saiba selecionar. Há muito, mas muito lixo rolando pela mídia, o funk é um deles. 

E não é questão de preconceito musical. Funk nacional é lixo, seja do jeito que for. Em outros estilos, há coisas boas e há lixo. Há música sertaneja de qualidade, e há o sertanejo lixo. Há o samba de qualidade, e há o samba lixo. E assim é com todos os estilos musicais em nosso país. Então, como disse, há que se saber selecionar.

O problema é que a mídia dá prioridade para o que é lixo, porque as pessoas gostam de ouvir lixo. Esse é um sintoma da degeneração da civilização, na minha opinião. Na música erudita brasileira há coisas sensacionais, mas quem é que divulga, quem é que escuta?

18- Bem, como sabemos você é professor, é jovem, escritor... e muitas vezes isso gera uma certa paixão nas mulheres, você já lida com assédio de alunas e fãs? Se sim, como você reage diante disso?

Sim, acontece, mas também não é algo fora do normal, rsrs. Quando acontece, busco manter apenas a amizade. A não ser que eu também não queira só a amizade. “No amor e na arte tudo é possível.”

19- Pude perceber que você tem certo gosto por animais exóticos, qual o motivo disso, originalidade, desejo de ser diferente?

 O motivo é que me identifico com eles, é algo natural, não é uma busca de ser diferente. Identifico-me com os animais noturnos ou sombrios. Felinos, corvos, urubus, corujas, entre outros, me fascinam.

20- Quais seus projetos atuais?

Tenho dois livros quase prontos, um de poesia e outro de contos. Talvez publique um deles no próximo ano.

21-Relacionado à Literatura, quais seus planos para o futuro?

Continuar escrevendo e me aprimorando dentro do meu estilo.

 22-O que você mais gosta de fazer nas horas que deveriam ser ociosas?

O que seria uma hora ociosa, não estar escrevendo ou dando aulas? Bem, se for isso, leio, escuto música, vejo filmes, bebo, me reúno com os amigos, ou saio com eles... Mas mesmo nesses momentos, eu estou criando, buscando inspiração, porque são desses momentos que sai a literatura, da vida. Por isso quase sempre tenho papel e caneta comigo.

24-Pessimismo ou Otimismo? Brasil ou Europa?

 Com relação a nossa atual civilização, pessimismo. Identifico-me muito pouco com a cultura brasileira, por isso, Europa.

25- Como é o professor Alessandro Reiffer? Como é o filho Alessandro Reiffer? Como é o amigo Alessandro Reiffer? Como é o vizinho Alessandro Reiffer? Como é o homem Alessandro Reiffer? Qual faceta da sua vida mais entra em cena na sua literatura?

O professor: tento ser exigente sem ser chato, sem ser intransigente. Busco sempre a participação e a interatividade do aluno. Isso é fundamental.

O filho: tenho uma ótima relação com minha mãe, ela é muito compreensiva, e é muito difícil brigarmos. Meu pai faleceu quando eu tinha 
18 anos, a relação era um pouco mais difícil, mas sempre o respeitei muito. Sempre respeitei e sempre fui respeitado por meus pais.

O amigo: tenho uma excelente relação com meus amigos, é muito raro me desentender com algum, sou uma pessoa bastante tranquila. E sempre fui respeitado por eles, assim como os respeito.  Aprecio bastante sua companhia e são bastante importantes para mim.

O vizinho: tenha pouca relação com meus vizinhos. Mas nunca tive problemas com eles. Talvez eu incomode um pouco quando coloco música muito alta, rs.

O homem: bem, talvez essa pergunta seja melhor respondida pelas mulheres com que me relacionei, rsrs. Olha, sou uma pessoa que dou muita atenção à pessoa com quem estou me relacionando, mas sem abrir mão de meus instantes de solidão e de minhas necessidades pessoais, daquilo que faz parte da vida de um poeta. Dedico-me o máximo que posso à mulher que está comigo, mas jamais permito que para isso seja necessário submeter minha personalidade. Tenho uma personalidade muito forte.

 A faceta da minha vida que mais entra em cena na sua literatura: a minha observação de quanto a humanidade está em um rumo sombrio. E a minha desilusão com o ser humano.

26-Você tem algumas dicas para as pessoas que estão começando a escrever agora?

 Leia, escreva e viva. Leia, escreva e viva. Leia, escreva e viva. E siga sua própria consciência.

27- Viver de literatura é possível no Brasil? Se sim, você acha que qual região seria mais favorável?

 Não, não é possível.     

28- Você gostaria de dizer algumas palavras finais?

Gostaria, Ana, de te agradecer imensamente por essa oportunidade e pelo teu auxílio na divulgação de minha obra. Obrigado!

Também te agradeço por nos ter permitido saber um pouco mais de sua vida e pela sua disponibilidade de nos responder a essas perguntas. Fico grata também pela oportunidade de lhe conhecer e te desejo muito sucesso, você merece.

Quem quiser dar uma conferida no trabalho dele, aqui vai o seu blog :
                    http://artedofim.blogspot.com/

                                                                                            
Ana Karoline.


                                                                                            
                                                                                           

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Lendas: A Boneca do Bom - Bom


Com a chegada do fim do ano sempre uma nostalgia nos contagia...

Lendas

·               Boneca do bom-bom – A origem

                                           

Quem estuda no Patronato há certo tempo deve ter noção dessa história só pelo título. Reza a lenda que uma aluna do Colégio era a dona de uma boneca. A aluna morreu, logo depois do triste episódio, a boneca começou a ser usada como manequim pelas irmãs na secretaria, para mostrar o modelo do uniforme. Parece que ao longo dos anos o espírito da menina que morreu apoderou-se da boneca. Bizarro, não é? O motivo da nomenclatura “Bom-bom” ninguém sabe ao certo, existem várias versões, mas todas giram em torno de uma atitude relacionada à boneca e um bom-bom. Há alguns anos, alunos se sentiram profundamente atormentados por tal fato, chegando ao ponto do antigo diretor Padre Marques expor a boneca no pátio da escola (Sim, a boneca que era modelo realmente existia e ficava guardada em uma sala de antiguidades) e com estas palavras ele tentava acalmar os alunos que se encontravam em estado de pânico: “- Ela é só uma boneca. Ela não faz nada” (sacolejando a boneca para todos verem sua inércia). Não viu nada de interessante nessa história? Na verdade contamos tal lenda para introduzir um conto verídico. Pode parecer idiota, mas se tiver paciência, leia, pois a seguinte história jamais foi divulgada. Ela é tão real que está comprovada por meio de fotos e mapas que remontam planos arduamente trabalhados. Mas ATENÇÃO: só leia o parágrafo seguinte se tiver vontade de fazer isso.

·               Boneca do bom-bom – Ressurgindo das cinzas.

                                       

Dois Mil e Oito - Primeiro Ano - Ensino Médio. Era Setembro, mais precisamente no dia dez. Os primeiros chuviscos avisavam o retorno do inverno.  Corriqueiramente, quando se aproxima o final do ano letivo, jovens complexados tendem a bolar estratégias mirabolantes para serem finalmente vistos e lembrados pelo resto do Colégio, deixando assim seu legado para as gerações futuras. 

Com duas adolescentes em pleno conflito de identidade também não foi diferente. Estavam eufóricas, pois há tempos não passavam por fortes emoções. Extasiadas pelo romantismo policial e lírico como as jovens do século XX, desejavam profundamente sentir aquilo que admiravam em filmes e livros, a adrenalina. 

Atônitas, queriam encontrar uma forma de mexer com toda a sociedade patronatense e degustar os olhares confusos e surpresos de todos, enquanto suas identidades permaneciam ocultas e seus olhares dolosos perdiam-se na multidão admirada com a cena. Foi nessa manhã que tiveram uma das suas mais esdrúxulas idéias: Fazer renascer das cinzas, a lenda já esquecida da BONCECA DO BOM-BOM. Pediram a ajuda de um ex-aluno que já era acostumado a realizar brincadeiras desse tipo. O amigo conseguiu mais um comparsa, carinhosamente apelidado de “Boca do Inferno”, mas não pelas características culturais similares com o poeta Gregório de Matos, mas por seu protótipo físico de lábios e arcada dentária. Semana de provas, as duas criaturas abobalhadas foram fazer uma “visitinha” à sala da Coordenadora da Educação Infantil (Meiriane) e estudar o local. Afinal, de onde elas poderiam tirar a boneca para realizar a tal proeza? O território foi estudado e um dia depois se consumou o furto da boneca. Obviamente não era a verdadeira, mas isso não importava, o plano exigia uma boneca, qualquer boneca. A respiração ofegante acompanhou os passos das garotas até o armário de madeira branco, muito antigo por sinal, o que era um charme do estabelecimento. Uma delas vigiava o ato, enquanto a outra arrastava do armário qualquer boneca, a mais próxima possível. 

Após o infortúnio, as duas corriam freneticamente enquanto driblavam a recepcionista obesa e mal humorada. Ao passo apressado uniam-se as gargalhadas impiedosas, quando caminhando fora do Colégio. Sentiam o corpo todo tremer e uma adrenalina jamais imaginada. Talvez isso parecesse medíocre para todas as pessoas, se soubessem do ocorrido, mas não para elas, para elas aquilo era mais do que uma travessura inútil, pois uma bobagem só pode torna-se relevante, quando as pessoas delimitam um valor necessário para isso.  E foi o que elas fizeram, transformando uma atitude imatura em um parque de diversões. 

Quando olhavam para a bolsa e viam aquela boneca abarrotada dentro, jorravam-se rios de lágrimas conseqüentes das risadas incontroláveis. Mais tarde chegavam à casa do amigo da pesada, onde estipulavam a hora para queimar a boneca. A tão esperada noite chegara, saíram sem rumo os quatro, só mantinham um objetivo em mente, queimar a inocente boneca de cabelos castanhos e transformá-la em algo assustador. Finalmente encontraram um lugar pouco movimentado, Ponte do Vapor, depois de acender um cigarro para provar que era um macho viril, o rapaz ateou fogo em uma sacola e logo a boneca foi ganhando novas feições, assustadoras por sinal, careca e sem roupa, estava assim consumado o fim da combustão de uma boneca sutilmente apelidada de Bom-bom. 

Risos frenéticos eram praticamente expelidos de crianças crescidas no meio da rua, pessoas passavam e ousavam pensar em drogas, sexo ou qualquer outra coisa proveniente da cena ali realizada, mas nunca pela cabeça dos demais passavam travessuras infantis de escola.  Os dias passavam e o plano era pendurar a boneca queimada em um corredor ao lado da pequena quadra que era o contrário dos banheiros, ao redor dela acenderiam velas coloridas e escreveriam as mais diversas bobagens para amedrontar os alunos. Atolados em seus utópicos pensamentos estudaram o local e articularam toda a entrada sem que o vigia percebesse. 

Mas como simplesmente TUDO na vida das infelizes criaturas tem que dar errado, no dia a idéia foi interrompida, e tudo desandou, na manhã seguinte, foram dar uma olhada no local, pois haviam abandonado tudo nas mãos dos meninos, não encontraram nada, uma grande decepção, apenas alguns vestígios de rabiscos na parede. Mas os meninos logo após informaram que eles fizeram o combinado. Até hoje não se sabe o que verdadeiramente aconteceu. Será que a tia Magda limpou tudo? Ou foi outra pessoa? Só restaram as dúvidas.
                                           
                                           

                                                    Ulyane Vieira.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Paranóia

                                                    
Você já teve a impressão de que uma pessoa te repudia, por achar que você é afim dela?

Cara... EU JÁ.

Não sei se é paranóia da minha cabeça – deve ser – mas às vezes eu tenho a impressão de que certas pessoas pensam que eu sou afim delas. Não acontece sempre, só às vezes.

É que a gente sente uma repulsa da parte da criatura e passa isso pela cabeça: “Será que ele pensa que eu gosto dele?”

Bom, na mesma hora dá vontade de rir. É muita viagem... Realmente dá vontade de rir.

E depois eu penso que quem está viajando, sou eu.

E logo após, eu me pergunto se alguém pensou isso de mim. Se alguma vez você pensou, que eu pensei que você gostava de mim...

Olha, não sei, talvez eu tenha mesmo pensado ou não. Acho que não. Só penso que alguém é afim de mim, quando essa pessoa dá em cima de mim, então, se você nunca deu em cima de mim, não se preocupe, eu nunca achei que você gostasse de mim.

Eu to dizendo isso porque é um saco achar que uma pessoa pensa algo errado sobre seus sentimentos.

Já chegaram várias vezes pra mim falando de quem eu gostava ¬¬’. Nunca acertaram. \o/ Porém, a preocupação sempre ficava na minha cabeça, porque é horrível saber que você deixa transparecer para as pessoas um sentimento que não existe.

Principalmente eu, que sempre me preocupei com o que as pessoas pensam de mim, minha imagem sempre foi o centro da minha vida – pode me esculhambar agora - .

Mas a minha vontade é chegar para a pessoa e falar : “Pode ficar tranqüilo, EU NÃO GOSTO DE VOCÊ! Pode conversar comigo direito, porque eu garanto que não estou com vontade de tacar-lhe um beijo relâmpago. Só porque você se considera bonito, não quer dizer que qualquer menina que te cumprimentar, vai tentar te estuprar.”

Mas eu até entendo a preocupação de caras assim, afinal existe muita piriguete insuportável no mundo.

E isso vale para as mulheres também, não é porque um rapaz puxou assunto você, que ele já vai querer te jogar na parede e te chamar de lagartixa. Acorda!

CUIDADO, quando você estiver exercendo a incrível arte de decifrar o coração de alguém, você pode acabar decifrado coisas irreais.

                                                       Obrigada, Ulyane. 

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

O dia em que o barbudinho virou uma figura cult

 
    “Quero que a morte me surpreenda em pleno trabalho”.


   Ovídio deveria ter trabalhado nas Torres Gêmeas.




                                                                 Abraço, Ulyane.
                                                                          

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Tentação

 
                              Clarice Lispector

 Ela estava com soluço. E como se não bastasse a claridade das duas horas, ela era ruiva. 

  Na rua vazia as pedras vibravam de calor - a cabeça da menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela suportava. 

Ninguém na rua, só uma pessoa esperando inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia de momento a momento, abalando o queixo que se apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalento contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma revolta involuntária. Que importava se num dia futuro sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segurava-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a contra os joelhos. 
   Foi quando se aproximou a sua outra metade neste mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comunicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompanhando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatalidade. Era um basset ruivo. 
   Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro. 
   A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisado, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. Ambos se olhavam. 
    Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suavemente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascinada, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo. 
    Os pêlos de ambos eram curtos, vermelhos. 
   Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas que se comunicaram rapidamente, pois não havia tempo. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se com urgência, com encabulamento, surpreendidos. 
   No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol, ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores, de tantos esgotos secos - lá estava uma menina, como se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravidade com que se pediam. 
   Mas ambos eram comprometidos. 
   Ela com sua infância impossível, o centro da inocência que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com sua natureza aprisionada. 
   A dona esperava impaciente sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e os joelhos, até vê-la dobrar a outra esquina. 
   Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou para trás

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Conto extraído de LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

                                                     Ulyane.