O Blog Joguete do Destino, divulga hoje
a entrevista feita com o poeta Alessandro Reiffer, de Santiago, Rio Grande do Sul.
Santiago é conhecida como “A cidade dos poetas”.
Sim, ele é gaúcho, e diferente dos que aqui – Itapajé – habitam, ele é
um cara bem bacana e profissional naquilo que faz.
Ø Ficha:
Nome: Alessandro Reiffer
Idade: 33
Formação: Formado em Letras e em Administração pela
URI – Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus
Santiago
Profissão: Escritor e Professor
1-Acredito que aqui no Ceará você não é conhecido,
com essa entrevista talvez você terá um pouco de repercussão por aqui, então eu
gostaria que você se apresentasse, quem é Alessandro Reiffer?
Costumo me definir de maneira bastante
simples e direta, embora, talvez, um pouco estranha: um Arauto do Fim.
2- Você já lançou seu
segundo livro – (Poemas do Fim e do Princípio) – como você vê o futuro dos
livros impressos, eles vão continuar sobrevivendo por muito tempo ou você acha
que os livros digitais daqui a algum tempo vão dominar total? Lembrando que
você também o lançou em formado digital não é mesmo?
Acredito que o livro impresso não irá
desaparecer, não pelo menos num futuro próximo, porque ainda há muitos leitores
que não o trocam pelo digital, eu mesmo prefiro os impressos. Mas não há dúvida
que irá perder cada vez mais lugar para os digitais. Foi pensando nisso que
lancei meu segundo livro também em formato digital, que é bem mais barato e
mais ecologicamente correto que o impresso. Inclusive o digital tem tido mais
saída.
3- Santiago é tida
como “A cidade dos poetas”. Sua influencia inicial partiu do lugar em que você
vive, foi aos poucos adquirindo talento por ler obras de outros escritores que
não seja daí ou é genético? Alguém da sua família também escreve?
Não, não acredito em influência do
lugar onde vivo, ou genética, porque sou o único escritor de minha família. E o
fato de se ler bastante não faz de ninguém um poeta. Há muitas pessoas que leem
muito, até mais do que eu, mas não conseguem escrever um só poema autêntico. Na
verdade, já se nasce poeta ou não poeta. É da alma. Se não se nasceu poeta,
nunca se será um.
4- Mesmo que você não
viva exclusivamente da literatura, sua família teve certa resistência ou você é
bem apoiado? Tinha vergonha de mostrar o que escrevia para as pessoas de tua
família, ou até mesmo amigos no inicio? Se sim, porque?
Minha família sempre me apoiou, e
continua me apoiando. Não, nunca tive vergonha de mostrar qualquer trabalho,
mesmo que depois descobrisse que ele não era tão bom quanto eu pensava, rs. Um
poeta não deve ter vergonha do que escreve, se tiver, não deve escrever. Deve
escrever. Se os outros gostam ou não, aí já é outra questão.
5- Já é uma espécie de
tradição perguntar a escritores sobre a nova literatura que está monopolizando
a juventude. Não é preciso nem citar nomes, porque todo mundo já sabe do que se
trata. Qual sua opinião sobre Best Seller, e sobre essa força que
eles ganharam na literatura e no cinema? E vindo de você, um autor que de certo
modo tem aspectos vampirescos, o que acha dessa nova roupagem que os vampiros
estão ganhando?
Quanto
aos vampiros, sua origem e significado foi totalmente distorcida e degenerada
pela mídia. Tudo que vira moda se degenera. Os vampiros autênticos não existem
mais nem na literatura nem no cinema contemporâneos. Quanto aos Best Sellers ,
deixarei uma frase de Einstein: “O que é muito popular, é muito ruim.” Ela fala
por si próprio.
6- O que você acha
daqueles filmes antigos com mansões e aquela sala de biblioteca enorme, aquele
piso de madeira, etc...Atualmente não é preciso nem ser mansão, qualquer pessoa
pode montar em casa sua biblioteca particular, mas qual a sua opinião sobre a
quantidade de árvores que poderia ser preservada se não fosse o enorme uso de
papeis para a impressão de tantos livros que existem no mundo, não só os de
literatura, mas todos no geral?
Acredito que os livros contribuíram
muito pouco para a devastação florestal, se comparado com outros produtos,
embora também tenham contribuído. Há coisas que causaram muito mais devastação,
como a agropecuária e o avanço das cidades. Mas claro que hoje em dia, com os
livros digitais, há mais um motivo para se evitar a devastação, evitando os
livros impressos sempre que possível.
7- A sua poesia é cercada
por uma áurea sombria. O frio da região sulista, marcada por resquícios
europeus e de um hibridismo sul-americano tem alguma coisa a ver com o seu
estilo?
Sim, tem a ver, claro, também me
influencia, embora não seja decisivo. Se eu vivesse em um local quente, creio
que escreveria quase que da mesma forma. Mas não há dúvida que o clima e as
características da minha região estão presentes em minha obra, consciente e
inconscientemente.
8- Muitas vezes suas
palavras deixam transparecer uma espécie de submundo no qual você se encontra.
Qual a sua relação com esse submundo adotado como o seu ambiente poético?
Existe algum lugar especial – físico – onde você entra em contato com o seu
submundo? Existe alguém que te transpareça esse lado sombrio?
Não, um local físico não existe. Meu
“submundo” está dentro de mim mesmo. Posso entrar em contato com ele a qualquer
momento e em qualquer lugar. Claro que há situações que o favorecem,
principalmente quando estou em contato com a arte, seja música, literatura,
pintura, cinema, enfim...
9- A maioria dos escritores começou a
desenvolver sua técnica bem cedo, como Clarisse Lispector que publicou seu
primeiro conto aos 14 anos, Fernando Sabino que teve um conto premiado aos 13 e
Rimbaud que “aos 17 anos era um caso sério da literatura”. Como foi sua
iniciação na literatura? Existe algum “anjo da guarda” cujo você deve alguma
gratidão?
Escrevi meu primeiro poema com 8
anos de idade. Mas não dei continuidade. Somente aos 14 anos comecei a escrever
de forma mais frequente, e, com 15 anos, publiquei meu primeiro poema. Mas não
teve nenhuma pessoa que tenha sido decisiva para isso, apenas eu mesmo, a
necessidade de minha alma. Se devo agradecer a alguém, é a meus pais, que
sempre bancaram meus gastos com livros e para a publicação dos poemas e contos.
1o- Relacionando a sua poesia sombria,
gótica, você sempre se encontrou nesse campo, aos poucos foi descobrindo sua
própria estética ou teve de certa forma a intervenção de alguém?
A minha poesia tem elementos do gótico,
mas não se limita a isso, pelo contrário. Desde que comecei a escrever, os
temas sombrios surgiram sempre naturalmente, não foi propriamente uma escolha
de temas. Eles surgem por si mesmos, a minha tendência é essa, o que não
significa que seja sempre assim. E, claro, não teve a intervenção de nenhuma
pessoa.
11- Como você define seu estilo atualmente?
Literatura
de Ocaso
12- O que você mais gosta de ler (conto,
crônica, romance, técnico)?
Poesia,
contos e romances, dentro da literatura. A crônica me chama menos a atenção,
mas não que não a aprecie. Evito os Best Sellers. Fora da literatura, leio com
menos frequência, mas leio de tudo, filosofia, ciência, história, jornais,
revistas, livros de ocultismo... Apenas não leio livros técnicos.
13- Alguns escritores acham saudável ler algo
totalmente diferente do que estão escrevendo, quando estão escrevendo. Você
também é assim?
Sim, é interessante, mas não é algo que
eu siga como um padrão. Posso ler, posso não ler.
14- De tudo o que você já escreveu até
hoje, o que ou qual te trás mais orgulho?
Sinceramente, não sei. E nunca
parei para pensar sobre isso, rs.
15- Ao longo de sua formação quais os 5
principais autores que mais impactaram sua vida, suas 5 maiores inspirações,
eles ainda são os mesmos de hoje em dia? Se não, quais são os de agora?
Os 5 que mais me impactaram: Edgar Allan
Poe, Johann Von Goethe, Dante Alighieri, Fernando Pessoa, Victor Hugo. São e
serão sempre esses.
16- Você prefere literatura
nacional ou internacional? Por quê?
Prefiro
a internacional, como se pode perceber pelos autores que mais me impactaram.
Simplesmente porque a literatura internacional é bem mais ampla e mais rica que
a nacional, e há autores com que me identifico muito mais. Mas não desdenho a
literatura nacional (quem sou eu para o fazê-lo?), pelo contrário, temos nomes
que muito me influenciaram e continuam me influenciando.
17- Relacionado à música, quais seus gostos? E
qual sua opinião sobre a música brasileira, ela tem qualidade?
Sou um grande amante da música erudita, é
o que mais escuto, e ela muito me influencia em meus escritos. Mas também
aprecio alguns estilos e bandas dentro do rock, do metal, do eletrônico. E
também aprecio a música nativista gaúcha.
Claro que a música brasileira tem
qualidade, mas desde que se saiba selecionar. Há muito, mas muito lixo rolando
pela mídia, o funk é um deles.
E não é questão de preconceito musical.
Funk nacional é lixo, seja do jeito que for. Em outros estilos, há coisas boas
e há lixo. Há música sertaneja de qualidade, e há o sertanejo lixo. Há o samba
de qualidade, e há o samba lixo. E assim é com todos os estilos musicais em
nosso país. Então, como disse, há que se saber selecionar.
O problema é que a mídia dá prioridade
para o que é lixo, porque as pessoas gostam de ouvir lixo. Esse é um sintoma da
degeneração da civilização, na minha opinião. Na música erudita brasileira há
coisas sensacionais, mas quem é que divulga, quem é que escuta?
18- Bem, como sabemos você é professor, é jovem,
escritor... e muitas vezes isso gera uma certa paixão nas mulheres, você já
lida com assédio de alunas e fãs? Se sim, como você reage diante disso?
Sim, acontece, mas também não é algo fora
do normal, rsrs. Quando acontece, busco manter apenas a amizade. A não ser que
eu também não queira só a amizade. “No amor e na arte tudo é possível.”
19- Pude perceber que você tem certo gosto por
animais exóticos, qual o motivo disso, originalidade, desejo de ser diferente?
O
motivo é que me identifico com eles, é algo natural, não é uma busca de ser
diferente. Identifico-me com os animais noturnos ou sombrios. Felinos, corvos,
urubus, corujas, entre outros, me fascinam.
20- Quais seus projetos atuais?
Tenho dois livros quase prontos, um de
poesia e outro de contos. Talvez publique um deles no próximo ano.
21-Relacionado à Literatura, quais seus planos para
o futuro?
Continuar escrevendo e me aprimorando
dentro do meu estilo.
22-O que
você mais gosta de fazer nas horas que deveriam ser ociosas?
O que seria uma hora ociosa, não estar
escrevendo ou dando aulas? Bem, se for isso, leio, escuto música, vejo filmes,
bebo, me reúno com os amigos, ou saio com eles... Mas mesmo nesses momentos, eu
estou criando, buscando inspiração, porque são desses momentos que sai a
literatura, da vida. Por isso quase sempre tenho papel e caneta comigo.
24-Pessimismo ou Otimismo? Brasil ou Europa?
Com relação a nossa atual
civilização, pessimismo. Identifico-me muito pouco com a cultura brasileira,
por isso, Europa.
25- Como é o professor Alessandro Reiffer?
Como é o filho Alessandro Reiffer? Como é o amigo Alessandro Reiffer? Como é o
vizinho Alessandro Reiffer? Como é o homem Alessandro Reiffer? Qual faceta da
sua vida mais entra em cena na sua literatura?
O professor: tento ser exigente sem ser
chato, sem ser intransigente. Busco sempre a participação e a interatividade do
aluno. Isso é fundamental.
O filho: tenho uma ótima relação com
minha mãe, ela é muito compreensiva, e é muito difícil brigarmos. Meu pai
faleceu quando eu tinha
18 anos, a relação era um pouco mais
difícil, mas sempre o respeitei muito. Sempre respeitei e sempre fui respeitado
por meus pais.
O amigo: tenho uma excelente relação com
meus amigos, é muito raro me desentender com algum, sou uma pessoa bastante
tranquila. E sempre fui respeitado por eles, assim como os respeito.
Aprecio bastante sua companhia e são bastante importantes para mim.
O vizinho: tenha pouca relação com meus
vizinhos. Mas nunca tive problemas com eles. Talvez eu incomode um pouco quando
coloco música muito alta, rs.
O homem: bem, talvez essa pergunta seja
melhor respondida pelas mulheres com que me relacionei, rsrs. Olha, sou uma
pessoa que dou muita atenção à pessoa com quem estou me relacionando, mas sem
abrir mão de meus instantes de solidão e de minhas necessidades pessoais,
daquilo que faz parte da vida de um poeta. Dedico-me o máximo que posso à
mulher que está comigo, mas jamais permito que para isso seja necessário
submeter minha personalidade. Tenho uma personalidade muito forte.
A faceta da minha vida que mais
entra em cena na sua literatura: a minha observação de quanto a humanidade está
em um rumo sombrio. E a minha desilusão com o ser humano.
26-Você tem algumas dicas para as pessoas que estão
começando a escrever agora?
Leia, escreva e viva. Leia, escreva
e viva. Leia, escreva e viva. E siga sua própria consciência.
27- Viver de literatura é possível no Brasil?
Se sim, você acha que qual região seria mais favorável?
Não, não é possível.
28- Você gostaria de dizer algumas palavras
finais?
Gostaria, Ana, de te agradecer
imensamente por essa oportunidade e pelo teu auxílio na divulgação de minha
obra. Obrigado!
Também te agradeço por nos ter permitido saber um pouco mais de sua vida
e pela sua disponibilidade de nos responder a essas perguntas. Fico grata
também pela oportunidade de lhe conhecer e te desejo muito sucesso, você
merece.
Quem quiser dar uma conferida no trabalho dele, aqui vai o seu blog :
Ana Karoline.
Ana, publiquei a entrevista em meu blog, fazendo as devidas referências ao teu. Mais uma vez obrigado. Abraços!
ResponderExcluirMuito boa entrevista apresentando-nos o lado "humano" do poeta, meu conterrâneo e a quem muito admiro e torço.
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