quinta-feira, 6 de março de 2014

Resenha: O Restaurante no Fim do Universo.



Ontem acabei de ler o segundo livro da série O Guia do Mochileiro das galáxias, ele é um livro cheio de críticas sobre a nossa sociedade e questionamentos sobre a criação da Terra, muitas idas e vindas no tempo e muitas buscas por respostas fundamentais a vida, o universo e tudo o mais.

O Restaurante no Fim do Universo é realmente um restaurante onde os cidadãos do universo podem ir assistir a destruição da Terra enquanto comem e bebem alegremente e depois voltam para casa, contam ainda com um simpático animador que faz isso todas as noites, se é que a noite existe, pois o lugar é protegido por um campo de força.

“(...) acho realmente fantástico, vir aqui e assistir ao fim de tudo, e então retornar para casa, para suas próprias eras... e construir famílias, lutar por novas e melhores sociedades, combater em guerras terríveis em nome do que vocês acham certo... isso realmente nos trás esperança no futuro de todos os viventes. A não ser, é claro pelo fato de sabermos que não haverá futuro algum.”

 Onde um imenso animal leiteiro aproxima-se da mesa e se oferece como prato do dia e ainda ressalta que é melhor um animal que quisesse ser comido – como é o caso dele – do que um sem querer
.
Ao saírem do restaurante Arthur, Ford, Zaphod, Trillian e Marvim roubam uma nave, só que depois descobrem que ela está programada para se chocar com o sol, esse número faz parte de um concerto musical, então eles tentam desesperadamente sair de lá.

Quando conseguem, Marvim fica, e Zaphod e Trillian voltam para sua nave Coração de Ouro e Arthur e Ford caem em outra nave que descobrem estar a 2 mil anos no passado e que está destinada a cai em algum planeta inabitado para começar uma nova civilização.

Ao chegar lá, Ford descreve o planeta como o lugar mais bonito que ele já tinha ido e olha que ele já tinha estado em muitos. “Uma quietude maravilhosa estendia-se sobre o mundo, uma calma mágica que combinava com as doces fragrâncias dos bosques, os insetos criqueteando e a luz brilhante das estrelas para aliviar seus espíritos agitados”.

Eles se separaram da tripulação e foram fazer um reconhecimento do lugar, passaram semanas viajando, até que encontraram um território de montanhas cobertas de neve, escalaram-nas até que Ford vê algo escrito no gelo, e ao mostrar a Arthur que levou um tempo para conseguir ver o que era ele finamente viu.

Este planeta habitado por nativos que estavam morrendo com a chegada desses novos habitantes era o planeta Terra há 2 mil anos atrás e Arthur ficou muito desanimado ao perceber que seus antepassados eram uns boçais que só ligavam para eles mesmos e que destruíam o que a natureza tinha a oferecer.


É muita coisa pra contar sobre esse livro, é preciso ter muita imaginação pra ir até o Universo e atenção pra não perder o fio da história, porque é muita viajem esse livro, com reviravoltas chocantes, mas quando se começa ler ele, o difícil é soltar.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Relendo: A menina que roubava livros.



Há 5 anos eu comprei o livro: A menina que roubava livros. Não sei por que motivo, razão ou circunstância... mas ao folhear a revista Avon, me deparei com ele,  e sabe quando não é a gente que escolhe o livro, sim ele que escolhe a gente? Acho que foi isso que aconteceu.

Eu comecei a lê-lo de novo... pela terceira vez e essa foi a vez mais incrível. É muito legal fazer isso, por que a cada re-leitura a gente encontra novos detalhes na história que passaram desapercebidos da primeira vez, li em algum lugar que isso se chama leitura semiótica, o ato de perceber maiores detalhes quando se faz re-leitura de histórias, situações, etc.


Liesel é uma menina que tem um grande amor pelos livros, isso talvez se deva ao fato de ela ter achado um, logo após o enterro de seu irmão e por isso livros a façam lembram dele, assim como de sua verdadeira mãe, mas no decorrer da narrativa vemos que os livros se tornam cada vez mais uma necessidade na vida dela.


A estória se passa na Alemanha nazista, começa um ano antes de explodir a primeira guerra e em meio a seus estudos da meia noite com o pai adotivo Hans, as palavras vão ganhando vida... por que sim, ela meio que roubou o primeiro livro ( Manual do Coveiro) sem nem ao menos saber ler.


E ela briga na escola, brinca com os amigos na rua, leva sovas da Irmã Maria, limpa o cuspe que Holtzapfel lança na porta da frente de sua casa, enrola cigarros com Hans, o ouve tocar acordeão, ela e sua familia escondem um judeu no porão, leva e trás roupas lavadas e passadas para as casas nas quais Rosa Hubermann, sua mãe adotiva, trabalha... e ainda rouba livros, coisa que se torna um hábito no decorrer do tempo.


Mas não é só de roubo o seu suprimento literário, ela também ganha 2 no Natal de seu pai, mas também rouba um de uma fogueira que os nazistas fizeram... e em meio a luta pela sobrevivência, Liesel Meminger vive grandes aventuras com o garoto que se pintou de carvão por que queria ser Jesse Owens, chamado Rudy Steiner e vários outros personagens que surgem durante o livro.


Minha vontade de ler de novo surgiu não só por que é uma estória muito boa, mas também por causa do lançamento do filme que vai acontecer no final desse mês.


Pra mim Liesel é uma representante de um tipo de leitor, aquele leitor que faz de tudo para conseguir uma boa estória para ler, uma guerreira na vida, mas que tem sua base emocional nos livros, aquele leitor que não tem uma estante abarrotada, mas que sempre que pode compra um livro novo, ou ganha... ou rouba.

Ana Karoline Martins.



sábado, 21 de dezembro de 2013

Imagine só...



Imagine só... se não houvesse o ser humano na Terra? Não existiria lixo, lixo esse que é conseqüência do que é consumido por nós.

O homem é um ser que vive para o consumo, passa em média mais de quatro horas em frente a televisão, absorvendo todo um discurso que o condiciona a um ciclo vicioso de trabalho para consumir marcas e contrair dívidas, para pagar dividas. Sendo que no final, percebe (se é que percebe) que acabou consumindo apenas uma fantasia.

Já é possível sentir os efeitos desse modelo doentio de sociedade, a relação dos homens com seus semelhantes se tornando distante e vazia em plena era das comunicações eletrônicas em rede. Mais vazia ainda sua relação com a natureza, pois é nela que é jogada as conseqüências desse consumo desenfreado. O que não nos serve mais, vai para o lixo, muitas vezes de forma inadequada e ainda fica poluindo o solo por milhões de anos.

Mas em meio a todo esse abuso, o planeta não é passivo, ao ser emitido clorofluocarboneto, metano, dióxido de carbono e outros gases poluentes no ar, a camada de ozônio é atingida, causando sua destruição por conta do acúmulo e dando entrada para os raios ultravioleta nocivos à Terra, aumentando a chance de câncer de pele, sem falar no desequilíbrio do clima com o aumento do efeito estufa, que causa o derretimento das geleiras polares e conseqüentemente a inundação dos territórios.

Na medida em que não preservamos a biodiversidade, o planeta e o que ele tem a nos oferecer colocamos em risco a nossa própria existência na Terra. Por que o problema não é não tirar, e sim a exploração desmedida que o homem faz desses recursos naturais, sem consciência nenhuma do que venha a ser sustentabilidade.

Com o aumento da utilização dos combustíveis fósseis, como petróleo, carvão e gás natural, a concentração de dióxido de carbono duplicou em cem anos, ele começou a se proliferar demais, elevando a temperatura global, somando com a destruição das florestas, que em condições naturais elas regulam a temperatura, os ventos e os níveis de chuva em diversas regiões. Menos florestas, mais alta a temperatura no planeta.

E como se não bastasse tirar, o homem também polui o solo, a água, a atmosfera, trafica fauna e flora, introduz espécies em ambientes que não são naturais deles, caça e pesca ilegalmente... e as conseqüências são uma perda da qualidade de vida, muitas vezes irreparável.

A natureza é para estar disponível para satisfazer nossas necessidades básicas e não refém/vítima do crescimento econômico. Em primeiro lugar devemos colocar o bem estar de todos, a vida das pessoas, dos animais e do próprio planeta. Investir na melhoria das condições de vida e preservar as fontes de energia, ar, água e tudo aquilo indispensável para o equilíbrio ambiental, dando tempo para o planeta respirar/renovar seus recursos naturais, tudo isso é indispensável se quisermos continuar vivendo neste planeta.


Ana Karoline Martins.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Troca de livros


Uma vez eu estava no Facebook e encontrei um evento de troca de livros super bacana que acontece em São Paulo e pensei, por que não fazer um também em Fortaleza?

Trocar coisas vem de uma ideologia de negação ao comércio, lucro... enfim, capitalismo. Decidimos então começar pelos livros, mas quem sabe nas próximas edições a gente começar a trocar também roupas, calçados e talvez até discos, como um cara nos sugeriu.

Diferente do que acontece nas transações comerciais, onde eu dou o dinheiro ao vendedor, recebo meu produto e saio muitas vezes friamente, sem dar um bom dia ou mesmo um sorriso de agradecimento e ele a mesma coisa, trocar objetos nos aproxima, nos socializa, conversamos com o futuro dono do nosso produto sobre as qualidades reais que se tem em adquirir um livro por exemplo, contando um pouco de sua história, sem se preocupar em convencê-lo a levar e sim em mostrar o quanto gostou daquela história e que a pessoa talvez também vá gostar tanto quanto você.

Apesar de a gente as vezes pensar que não dá pra viver fora do capitalismo, conseguimos burlá-lo sim, as vezes, afinal o que não necessitamos mais, por que deixar em casa entulhando nossos guarda-roupas, estantes e armários? Tendo várias pessoas que com certeza usariam o que pra você não é mais útil de forma criativa e inovadora.


Nosso primeiro encontro não deu nem 50 pessoas, mas acredito que com uma divulgação maior a gente consiga alcançar um público que tenha essa mesma ideologia ou mesmo vontade de renovar suas leituras de um jeito mais barato e ainda fazer um bem a alguém.

Ana Karoline Martins.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

RESENHA DO LIVRO ‘ON THE ROAD’, DE JACK KEROUAC.




Antes de conhecer a história de Jack Kerouac, eu conheci Chris Mclanders. E foi ele que me ‘levou’ até Jack, por conta dessa história de pegar a estrada e sair por aí. Antes de comprar ON THE ROAD – o manuscrito original; eu pesquisei muito e li sinopses de outras obras dele e estava encantada.

É difícil não comparar Jack com Supertramp – pelo menos até não conhecer bem os dois – e confesso que a NATUREZA SELVAGEM de Chris, foi muito mais intensa do que a estrada de Kerouac.

Kerouac amava a América, as pessoas, estar vivo e viver cada acontecimento, o que para mim ele era apenas um jovem entediado, que decidiu fazer um pouco de desordem e que encontrou outros malucos, que o apoiaram ou que faziam coisas piores que ele, o que conseqüentemente causava certa identificação.

Eu achei estúpido quando Bob Dylan disse que este livro mudou a vida dele, particularmente eu não vi/li nada de mais.

Pode até ser pelo tipo de escrita, ON THE ROAD é escrito em tom confessional, tipo diário, já NA NATUREZA SELVAGEM, foi escrito após a morte de  Chris, por John Krakauer, o que abre espaço para uma “romantização” da história.

O que Jack me passou é que mesmo ele vivendo com pessoas que se diziam “intelectuais”, eles não passavam de verdadeiros vagabundos vivendo numa sociedade niilista. O que pelo menos no ponto “vagabundos”, ele mesmo algumas vezes se autodenomina assim.
Eu achei uma narrativa cansativa e me arrependi de tê-lo comprado, eu poderia ter gasto esse dinheiro com um livro bem mais prazeroso... apesar de esse livro ser considerado um clássico americano.

Por isso não nego a importância da obra, nela Jack exalta a América, narra suas aventuras, e anota tudo, quem sabe isso não me seduziria a uns 3 anos atrás, mas hoje em dia não mudou muita coisa na minha vida e não me acrescentou nada que eu já não soubesse, além de ter caráter machista, por que sim, eu sou uma grande fã de romance. U_u

Além do mais ao final de sua vida Kerouac, terminou um velho bêbado que ia a missa aos domingos, como eu li em uma revista:

“Desapontado com os beatniks, desgostoso com os excessos, Kerouak encontra refugio no catolicismo e no conservadorismo.”

Mas veja só, como a vida dá voltas, na velhice o vazio existencial o toma de tal forma que até conservador ele vida. ¬¬’

Depois de passar a vida fugindo de leis e regras, no limite humano, com álcool, drogas, mulheres, etc... ele, no fim se rende a america way of life: propriedade privada, religião e capitalismo.

Por isso prefiro Chris McLanders, aprecio muito mais sua busca trágica do que a busca frustrada de Kerouac.

Na medida em que a leitura se desenrola, podemos perceber um certo amadurecimento dos personagens.

É como se toda a excitação vazia fosse apenas novidade, depois se ‘jogar’ na estrada se torna uma necessidade, como em uma parte que Jack diz: “Queimei todas as pontes”, nesse momento ele desiste de todo o seu passado, não se importando mais com nada a não ser com a extensa linha branca no meio da estrada e os loucos acontecimentos durante o percurso.

A amizade de Neal e Jack se fortalece, exatamente por que agora eles passam mais tempo juntos e ela se torna foco. A sanidade de Neal é mais do que questionável, só Jack o compreende.

Ao final de sua maior aventura que foi pelo México, algo aconteceu... Neal voltou sei lá para qual sua esposa – sendo que ele tinha já não sei quantos filhos, com várias mulheres -  e Jack depois voltou sozinho para casa, de ônibus e termina o livro dizendo que depois disso nunca mais viu Neal Cassadi.

-------------------------------------------------------------------------------  Ana Karoline Martins.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Voltando para a Caverna



Ah! O silêncio, finalmente...
A calma, a leveza da vida e da mente.
Sem sons, falas ou ruídos,
Sem pressa, pessoas, TVs e nem gritos.


Do nada chega o povo,
Que me impede de ler.
Ligam a TV para tentar esquecer.
E quando eu saio me perguntam o porque.


Ora! Se você ligou a TV,
Vou para outro lugar tentar me esconder,
Porque na sala não dá mais pra ser.


Fica, vem, senta...
Liga a TV e fica atenta.
Largo ou não largo o livro de lado?
Sento, assisto como o meu amado.


Sentamos no chão
E voltamos a viver na
Caverna de Platão, um mito que
Uma vez lido, não dá mais para ser
Esquecido.

Ana Karoline.

domingo, 18 de março de 2012

Joguete entrevista: Leo Carona


Quem nunca sonhou em sair pela estrada de carona? Conhecer novos lugares, novas pessoas, novas culturas... Hoje, o Joguete entrevista Leo Carona, mineiro e mochileiro popular na rede que um dia decidiu sair em busca do acaso.
E vocês, olho vivo e faro fino!
Nome: Leo Carona
Idade: 24 anos
Profissão: Engenheiro de Software
Vive em: BH/MG
Blog: http://leocarona.com.br/

A entrevista foi cedida pelo facebook, mais precisamente pelo celular, tarde da noite, com certa dificuldade, mas acabou dando certo graças à boa vontade do Leo. Em meio às minhas informações mal arranjadas, interpretações ambíguas das respostas e outras coisas chatas que o Leo foi super gente boa em suportar, deixo aqui meus sinceros agradecimentos.

O que te motivou a virar um mochileiro? Conta essa história pra gente.

Comecei quando morava em Viçosa (cidade universitária de MG). Onde eu resolvia ir visitar meus pais eu não me conformava em pagar ônibus para isso. Já sabia que uma pessoas pediam carona na saída da cidade, e quando eu ia fazer o mesmo, eu tinha certa vergonha ou medo de mofar sem ninguém parar pra me levar. Eu tive que enfrentar isso em mim. Foi difícil, mas consegui enfrentar isso e comecei a viajar mais frequentemente nesse trajeto. Até conhecer a Mah, uma garota do sul do Brasil que me ajudava a baixar um seriado na net, e ela resolveu a sair sozinha com seus olhos claros, pedindo carona pelas estradas do Brasil até minha republica em Viçosa. A levei pra Ouro Preto e carnaval na minha cidade Raul Soares. Por causa dela cheguei ao insight “se eu viajo sempre de carona por esses lados, eu também posso conhecer outros estados além das fronteiras mineiras.” Eu só havia ido à praia mineira até então, Espírito Santo. Eu não me conformava em pagar ônibus pq sabia q sempre tinha gente indo pra minha cidade em carros vazios, q não se importariam em me dar carona.

Nada mais emocionante do que a primeira vez. Você poderia compartilhar conosco a sua primeira viagem e a reação da sua família ao se dar conta de que criavam um peregrino moderno?

Hahaha, realmente o termo 'peregrino moderno' cai bem, já que os clássicos geralmente eram os hippies andarilhos, e eu sou tecnológico d+, e uso muitos recursos cibernéticos nas minhas viagens (como mapas online, redes sociais e comunidades de viajantes q se encontram por internet). Não sei quando foi a primeira viagem, mas foi por volta dos 18 anos. Pra fora do estado eu devo ter ido aos 19 anos, com a Mah, que tinha 18 na época. Quando cruzamos a fronteira a primeira vez, chegamos a Ribeirão Preto. De la, liguei pra minha família e falei pra minha mãe onde eu tava. Ela assustou e a ouvi alarmando ao fundo pro meu pai "ele está em São Paulo!", enquanto eu pensei "ela que não imagina que o plano é ir ao sul", e o lugar mais longe (ao sul) dessa viagem acabou sendo a ilha da magia (Floripa), já em Santa Catarina.

Uma loucurazinha na vida, todo mundo faz. Mas transformar isso em seu estilo de vida não é para qualquer um. Então, o que te convenceu a continuar na estrada?

Aprender, conhecer, ultrapassar minhas próprias fronteiras, me expor a situações inesperadas, e porque não, surpreender (a mim e) às pessoas: ser falado, como um idiota por saber dos riscos, ou como um admirado corajoso q faz algo que poucos se arriscariam, embora tivessem a mesma vontade. De bixa, satanista gótico, drogado ou qualquer coisa do tipo, eu virei o cara que foi parar lá em far far away pedindo carona. (ah, eu nunca fui um adepto as drogas dessa forma, só ironizei os boatos bobos).

Qual a pior coisa que te aconteceu na Infinita Higway, que te fez pensar: "O q eu tô fazendo aqui?" E qual a melhor?

Pensar "O q eu tô fazendo aqui?" eu já pensei um bocado de vezes, geralmente nos lugares onde eu fico sem o que fazer, entediado, ou em estradas onde ta difícil conseguir carona (comum em feriados ou finais de semana). A infinita highway, br 101, já me deu dor de cabeça na altura do sul da Bahia (onde estive duas vezes), no norte de SP (indo pro RJ) e na chegada de Porto Alegre (RS). Ora pq na região é difícil conseguir carona, ora pq chovia sem parar (e conseguir carona de baixo de chuva é foda). Já tive medo, em carona até com cara que assumiu ser traficante, e o q pensei, bolando uma estratégia ao mesmo tempo q não exprimia o q pensava, foi "se rolar algo, abro a porta, jogo a mochila e 'tento' cair sobre ela". Mas nunca rolou nenhum problema. De bom... Uma das experiências mais interessantes foi na Argentina. Além de ter a coragem de pôr um caroneiro desconhecido (eu) no carro 0 km q tinha acabado de comprar em Buenos Aires, o cara ao saber q eu não dava noticias a meus pais há duas semanas, desbloqueou seu celular pra chamadas internacionais e me fez ligar pra eles (q ficaram mt agradecidos, como sempre). Além disso, me pagou um lanche com refrigerante e ainda ligou pro cara que ia me hospedar, entrou na cidade e me deixou exatamente onde ele tava.

Nossa! Vocês se comunicavam em Espanhol?

Então, essa foi a primeira vez fora do país. Eu tive q me virar com um péssimo portuñol, foi meio foda, mas enfrentei (e hj já posso me comunicar bem melhor, sem mesclar com português).

Qual seu maior objetivo em levar uma vida libertina? Como você consegue se manter financeiramente dessa forma?

Não é uma vida, são só um ou dois meses de férias geralmente. Desde o começo (18 anos, 6 anos atrás) sempre estive no sistema (embora não pareça) de aulas na faculdade, e agora (pra diminuir as oportunidades) eu trabalho. Eu sempre ia, me jogava por aí (as vezes sem grana alguma), me sentia e vivia libertino, mas tinha consciência q tinha q voltar (por vontade própria) pra volta as aulas. Sempre gostei de aprender, mas sabia q faculdade era o único lugar onde eu aprenderia mais sobre algo especifico, e não tinha q me esforçar tanto pra obter informações. Eu to empregado, vai dificultar um pouco as viagens mais longas 'a dedo'. Ao chegar dessa ultima viagem (norte brasileiro, Peru e Bolívia) a empresa onde eu estagiava me contratou. Não deixei as viagens de lado, mas ficarão mais difíceis agora. Pro próximo fim de semana mesmo eu ando pensando em dar um pulo na Cidade Maravilhosa, pedindo carona (novamente) pela BR 040. E a questão do financeiro, eu viajei muito por aí a fora sem grana. Meus pais não ajudavam pra essas coisas, e eu tinha meus objetivos de aprender a me virar, de dar a oportunidade das pessoas ajudarem a um desconhecido em sua exposição ao acaso. Sendo ao acaso, tudo que veio pra mim foi lucro.

Você poderia fazer uma listinha dos lugares por onde passou dentro e fora do Brasil?

Vish, posso resumir. Pq to no celular aqui. Já passei (só de carona) por todos os estados do litoral leste brasileiro (do RN ao RS), mais países UY, ARG, CHI. Janeiro agora, cheguei de Rondônia ao Peru de carona, mas dentro do país desisti d caronar. Aí fui pra Bolivia também, cruzando o país em ônibus, servindo também de interprete a dois brasileiros que conheci na chegada ao Peru.

O resto do Brasil já está excluído da sua lista?

Não mesmo, o Brasil não ta excluído, tanto q na ultima viagem eu elegi passar por dois estados nortistas (RO e o lindo AC). É fato q o exterior me interessa bastante, pq eu amo aprender línguas e ainda não sou totalmente fluente em nenhuma além de português. Mas tenho na lembrança muito Brasil, sobretudo lindas praias nordestinas, o Rio, Floripa e bons amigos espalhados por aí.

Você se mantém legalmente nos outros países? Como se dá esse processo migratório?

Pela América do Sul (onde estive até agora) o processo é muito tranquilo: chega à fronteira do país que deseja visitar, busca a aduana (um escritório normal) com seu RG e algum papel adicional (dizem q países como Peru e Uruguay exigem vacina de febre amarela, mas não me pediram), e pronto - te dão um papelzinho de entrada no país que só te resta cuidar pra que ele não molhe, rasgue, ou seja, roubado durante seus dias no país.

Você programa antes todo o seu roteiro de vigem, (o q você vai conhecer, onde vai ficar) ou é tudo "na doida"?

Eu costumava não programar nada, só ia baseado em alguma ideia, como "vou pro sul", e nas cidades que chegava, entrava na net e buscava outras opções de hospedagens (couchsurfing ou conhecidos virtuais) em outras cidades. A partir das respostas positivas de hospedagem, meu percurso se traçava.
Na ultima viagem tentei programar um pouco, com ajuda duma amiga caroneira da Eslováquia q viajou por aqui. Acabei chegando ao Peru e desanimei de seguir viagem sozinho quando cheguei a Cusco.

Algum lugar cujo você se arrependeu de ir? Algum q você gamou tanto que teve vontade de morar lá?

Quando cheguei ao Peru eu me arrependi de ter ido pra la. Acho que o que me passou é que eu me mudei um pouco nos últimos meses e não havia me dado conta disso. Nas outras viagens eu tinha mais tempo de férias (2 meses de férias da faculdade) e eu vivia um pouco mais sozinho (morava sozinho e mal saía de casa). Nos últimos meses eu havia começado a trabalhar (a minha volta agora tem data e obrigação) e fui morar em uma republica com uns amigos de Viçosa, então havia tbm me acostumado a passar mais tempo com colegas e amigos, a não estar tão sozinho.
Eu tava em Cusco (Peru) e dois brasileiros que conheci me ofereceram pagar minha passagem de ônibus pra ir com eles ao Lago Titicaca como seus interprete pra conversarem com os habitantes das ilhas flutuantes). Meu sentimento era o de ficar no gostoso frio de Cusco os últimos 10dias de ferias e voltar pelo mesmo caminho de vinda, de tão desanimado que fiquei com a viagem. Mas aceitei o convite deles, e vi neles possíveis companheiros de viagem, pra me animar um pouco mais. Sugeri voltarmos ao Acre cruzando a Bolívia, mas como eles tinham muitas malas, o meio de transporte teria que ser ônibus. Aceitaram e assim o fizemos: cruzamos as precárias e bizarras estradas bolivianas em ônibus (passagens exageradamente baratas) e nos hospedamos em hostels (não havia CouchSurfer na maioria das cidades), coisa que eu devia ter feito não mais que três vezes na minha vida, mesmo já tendo viajado tanto.
O litoral brasileiro é lindíssimo, sempre quero voltar. Não costumo me fixar muito com nenhuma cidade pq sempre quero conhecer outras. Mas, o Rio de Janeiro é a única cidade brasileira que quero morar, se eu não me mudar pra fora do país direto. Acho o Rio lindo, cheio de opções de lazer que me interessam e aumentam minha motivação pra ter tbm uma vida rotineira de trabalho, sem contar que agora há um garoto por la, e muitos gringos pra facilitar minhas práticas e aprendizado de outros idiomas (tem muitos que ainda quero aprender).

Muitas pessoas têm uma visão romântica a respeito dessa vida andarilha, idealizando e deturpando a realidade da rotina de um mochileiro. Você poderia desmistificar essas fantasias ou alimentá-las ainda mais (risos)... Conte-nos como é pedir carona nas estradas brasileiras.

Bom... A falta de dinheiro é a principal desculpa das pessoas para não viajarem. Até que chega o dia que a desculpa muda: elas passam a não ter mais tempo, porque estão trabalhando muito. Aí elas ficam velhas, e dão conta que traçaram uma ótima carreira profissional ao longo de suas vidas, ou que pelo menos conseguiram se manter vivas pagando por algumas das coisas que quiseram. Acho que isso não deve ser o principal, fica faltando às pessoas e outras vivências. Se tem uma coisa que é legal fazer, e é legal que façam por você, é a prática da gentileza. E pode acreditar, tem muita gente desconhecida por aí disposta a ser gentil com você, assim como foram e são comigo. Mas preste atenção: nem tudo que você quiser será possível (o que te ensinará a não exigir coisas - sobretudo conforto - demais), e você aprenderá a dar mais valor ao que realmente é necessário. Muita gente vai te dar a oportunidade de conhecer e experimentar coisas que você não teria o direito (o dinheiro) de conhecer, e aquelas que forem mais inesperadas provavelmente serão as mais marcantes. E quando você perceber, você terá caído no ciclo: estará ajudando (ou dando o direito) das pessoas conhecerem coisas que dificilmente conheceriam sem você.